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Capítulo 23: XXIII - Diplomacia do coração

Página 281

Digam-no os numerosos pares, para quem voam as horas e desaparece o mundo, de enlevados que se entregam a esses intermináveis diálogos, motivo de zombarias aparentes e de ocultas invejas dos que os não podem gozar; digam se, quando mais sinceros sentiam em si os afectos, eram metafísicas e transcendentes especulações sobre o amor o que assim lhes absorvia as atenções e os cuidados; digam se, quando, ao terminar um desses felizes dias, tentavam reproduzir as impressões recebidas no decurso dele, recordando as palavras ditas e escutadas naquelas longas entrevistas, outra coisa lhes conseguia avivar a memória que não fossem diálogos pouco dramáticos, banalidades sobre assuntos indiferentes, mas sob cujo disfarce o coração achara meio de dizer muito e até mais eloquentemente do que ainda poeta algum o pôde exprimir – nem o próprio Petrarca nos seus trezentos e dezoito sonetos.

Isto aconteceu a Carlos Whitestone. Poucas vezes voltara a casa mais possuído desta íntima e indefinida alegria de quem assiste em si ao atear de uma paixão do que na noite em que se verificou o diálogo, que o leitor provavelmente julgou prolongar-se sem consequências.

Prolongou-se este estado de coisas. O médico, a quem fora confiado o tratamento de Manuel Quintino, prudente em demasia, apenas lhe prometia esperanças de o deixar sair passada uma semana mais.

Carlos não pensava com frieza de ânimo no termo daquele prazo. Poderia, sem causar estranheza, continuar, ainda depois dele, as visitas que lhe eram já tão necessárias? Até ali servia-lhe o pretexto de vir dar contas a Manuel Quintino do serviço da manhã; mas depois?

Carlos continuou a ser diligente nos negócios do escritório. Mr. Richard ainda não acabara de conformar o espírito àquela mudança do filho.

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pág. 281 (Capítulo 23)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 281

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432