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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 30
Que querem? Não está em moda trazer o coração à vista. É costume tratar, como ridículas, todas as manifestações de sentimento; consideram-se como pequenas fraquezas que, com milhares de outras, só se devem confiar à discrição das quatro paredes do nosso quarto.

Carlos porém não sabia dissimular; com verdadeira convicção e franca ingenuidade, dissera aquelas palavras, que lhe valeram alusões epigramáticas ao que eles chamavam «respeitabilíssima tendência para pai de famílias».

O bilhete que motivara esta cena e que parecia haver impressionado deveras Carlos era da irmã e dizia apenas:

«CHARLES

É hoje o dia 19 de Fevereiro. Fazes vinte anos. Julguei que seria desnecessário pedir-te para nos dares o prazer de te vermos connosco. O pai esperava-te. Adeus.

Jenny.»

A este pequeno bilhete, Carlos respondeu apenas:

«JENNY

Confiaste de mais na minha memória; acredita que me esqueci. Não me sucederia o mesmo decerto, se, em vez do meu, fosse o dia do aniversário de qualquer de vós. Fazes-me a justiça dessa suposição, não é verdade? Agora não posso valer-lhe. Obriguei-me a seguir até o fim companheiros tão doidos como eu; e, quando os deixasse, não sei se ainda iria em estado de poder, sem profanação, sentar-me ao teu lado, à santa e patriarcal mesa de família. Bem vês que nem vale a pena festejar o dia em que veio ao mundo mais uma cabeça leve. Amanhã te pedirei perdão… Como me lembrei também de fazer anos na segunda-feira de Entrudo?!

Teu mau irmão

Charles.»

Afinal, após algumas explicações mais, um dos convivas levantou-se e, empunhando o cálice:

– Meus senhores, proponho que saudemos o aniversário de Carlos – bradou, em tom de brinde.

– Apoiado – responderam todos, imitando-o.

– Carlos – continuou o primeiro

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pág. 30 (Capítulo 3)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 30

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432