Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 27: XXVII - O motivo mais forte

Página 310

– E para quê? – pensava ele – ninguém já agora arrebatará esta presa à morte. Pelo menos que seja tranquilo o passamento. Deixá-la morrer em paz.

E ficou, ficou ele só, único espectador daquela cena lúgubre, daquele espectáculo pouco talhado para a sua juventude, para a sua índole e para os vestidos de gala, com que, para bem outros fins, esmeradamente se preparara.

Era notável o contraste. A velha caiu em silêncio profundo, apenas cortado de surdos gemidos.

Dava meia-noite, quando uma respiração mais ampla, após um profundo repouso, fechou o círculo daquela longa existência.

Carlos conheceu que tinha diante de si um cadáver.

Depois de por algum tempo a encarar melancolicamente, desceu-lhe, com piedoso respeito, as pálpebras sobre os olhos amortecidos.

Foi neste piedoso mister que o vieram encontrar Jenny e Mr. Richard. Voltando da visita a Mr. Smithfield e sua filha, souberam no portal que Carlos não havia saído, em consequência do violento acesso que acometera Kate.

Aí mesmo se desvaneceu toda a irritação de ânimo em Mr. Richard.

– Então não saiu?

– Não, senhor – disse o criado –, havia-se vestido para sair, mas até agora tem estado só no quarto da Sr.a Catarina.

O velho inglês, que tinha ainda pela que fora sua ama uma verdadeira afeição, sentiu-se comovido ao ouvir isto.

Ele e Jenny correram então ao aposento de Kate.

– Expirou agora – disse Carlos, ao vê-los entrar.

O pai e a filha acercaram-se apiedados do leito.

Jenny não recusou lágrimas de saudade àquela velha mulher, que ela, tão longe quanto lhe ia pelo passado a memória, se recordava de ver sempre junto de si.

Mr. Richard curvou também a cabeça perante aquele tão solene espectáculo.

Carlos ficava-lhe defronte e ao lado a irmã.

Jenny, enxugando os olhos, voltou-se para ele.

<< Página Anterior

pág. 310 (Capítulo 27)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 310

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432