Aproximou-se a noite.
José Fortunato foi pontual.
Cecília estava cada vez mais agitada; o coração era-lhe disputado por esperanças, misturadas de receios, de ver chegar Carlos à hora prometida, e por o pressentimento, que lhe segredava que ele não viria aquela noite.
A impaciência que daqui lhe nascia no espírito revelava-se nas mais pequenas coisas. Quanto mais se fechava a noite, tanto mais era para notar em Cecília aquela espécie de excitação nervosa em que as ocorrências do dia a haviam lançado.
Chegou a ser cruel para com José Fortunato.
Às vezes, até as respostas que dava ao pai saíam-lhe com certo azedume, de que imediatamente se arrependia, empregando depois tanto ardor nas desculpas, que ainda mais afligiam e inquietavam o velho.
Segundo o costume, era ainda à doença, e só à doença, que ele atribuía aquilo tudo, e por vezes, chamando a filha a si, insistiu, depois de a beijar, em lhe tomar o pulso.
Manuel Quintino, que não entendia coisa alguma de organizações nervosas, julgava ver na frequência das pulsações em Cecília um sintoma evidente de febre e, por sua vontade, já teria rodeado a filha de todo esse aparato médico, com que, sob pretexto de combater uma doença, tantas vezes se agravam incómodos ligeiros.
Deram sete, oito, nove horas, e Carlos não aparecia.
A Sr.a Antónia andava com ares triunfantes. José Fortunato trocava olhares de inteligência com ela.
– Estou muito admirado da demora de Carlos! – dizia Manuel Quintino. – Está decidido que não vem.
– Será melhor trazer o chá – lembrou Antónia.
– Será melhor esperar que lho mandem trazer – acudiu Cecília com frieza.
Manuel Quintino, ao ouvir o tom da resposta, fixou tristemente os olhos na filha.
Estranhava-a.
– O Sr. Carlos teve pelos modos hoje outras distracções – observou José Fortunato.