Uma Família Inglesa - Cap. 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto Pág. 317 / 432

Não é essa a principal qualidade das histórias do Sr. Fortunato.

José Fortunato pôs-se logo muito sério; Manuel Quintino olhou espantado para a filha.

Episódios destes reproduziram-se durante todo o serão daquela noite. Que triste não era a alegria que Cecília afectava, ao trazer para o quarto do pai as flores, que preparara de manhã, cheia de contentamento! Lidar com flores, assim, com tanta melancolia, só quando se enfeita com elas um túmulo. Marejava-lhe nos olhos o pesar do coração; de pouco lhe valia o sorriso nos lábios. O serão acabou cedo. Cecília precisava de estar só; queria-se livre de todo o constrangimento, queria poder chorar, sem receio de vistas curiosas, de perguntas indiscretas, de reflexões impertinentes.

Será necessário dizer que velou toda a noite?

Levantou-se na madrugada seguinte com resolução formada.

– Eu é que era louca – pensava ela –, iludi-me sem fundamento… acreditei… e por que acreditei eu?… De que me queixo?… Nem direito tenho de ressentir-me. Paciência! – dizia a meia voz, suspirando. – Hei-de ter força bastante para tirar esta loucura daqui – e levava a mão à cabeça e, depois de reflectir, murmurava, mais baixo ainda, descendo-a para o lugar do coração: – E daqui nada terei que arrancar?

Manuel Quintino foi nessa manhã para o escritório. A convalescença era completa, mas para o ser também a sua alegria seria preciso que, ao despedir-se da filha, não tivesse notado no semblante dela outra vez a antiga expressão dolorosa.

Horas depois dele sair, passava Carlos, segundo o costume, por baixo das janelas, donde ordinariamente Cecília o esperava.

Desta vez, achou-as fechadas e corridas as cortinas.

Carlos estranhou aquilo, e por muito tempo não desviou os olhos delas.

Através dessas desapiedadas cortinas alguém o observava porém.





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