Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 317
Não é essa a principal qualidade das histórias do Sr. Fortunato.

José Fortunato pôs-se logo muito sério; Manuel Quintino olhou espantado para a filha.

Episódios destes reproduziram-se durante todo o serão daquela noite. Que triste não era a alegria que Cecília afectava, ao trazer para o quarto do pai as flores, que preparara de manhã, cheia de contentamento! Lidar com flores, assim, com tanta melancolia, só quando se enfeita com elas um túmulo. Marejava-lhe nos olhos o pesar do coração; de pouco lhe valia o sorriso nos lábios. O serão acabou cedo. Cecília precisava de estar só; queria-se livre de todo o constrangimento, queria poder chorar, sem receio de vistas curiosas, de perguntas indiscretas, de reflexões impertinentes.

Será necessário dizer que velou toda a noite?

Levantou-se na madrugada seguinte com resolução formada.

– Eu é que era louca – pensava ela –, iludi-me sem fundamento… acreditei… e por que acreditei eu?… De que me queixo?… Nem direito tenho de ressentir-me. Paciência! – dizia a meia voz, suspirando. – Hei-de ter força bastante para tirar esta loucura daqui – e levava a mão à cabeça e, depois de reflectir, murmurava, mais baixo ainda, descendo-a para o lugar do coração: – E daqui nada terei que arrancar?

Manuel Quintino foi nessa manhã para o escritório. A convalescença era completa, mas para o ser também a sua alegria seria preciso que, ao despedir-se da filha, não tivesse notado no semblante dela outra vez a antiga expressão dolorosa.

Horas depois dele sair, passava Carlos, segundo o costume, por baixo das janelas, donde ordinariamente Cecília o esperava.

Desta vez, achou-as fechadas e corridas as cortinas.

Carlos estranhou aquilo, e por muito tempo não desviou os olhos delas.

Através dessas desapiedadas cortinas alguém o observava porém.

<< Página Anterior

pág. 317 (Capítulo 28)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 317

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432