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Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 320

– Escute. Eu sei os favores que lhe devo e sei a fé que se pode depositar no seu carácter, que será tudo quanto quiserem menos capaz de uma infâmia.

Carlos escutava-o cada vez mais admirado.

Manuel Quintino prosseguiu, aumentando-se-lhe o embaraço com que principiou:

– Mas… no mundo em que vivemos, há a verdade e há as aparências e… não basta somente atender à primeira, é preciso também salvar as outras…

– Mas a que vem tudo isso? – perguntou Carlos.

– A propósito de uma… de uma loucura, mas que, apesar de saber que o é, eu tenho obrigação de atender. Esta manhã veio ter ao escritório, pela posta interna, uma carta anónima. Queira lê-la e depois dirá o que devo fazer.

A carta, cuja letra era visivelmente disfarçada, dizia:

«Alguém, que toma a peito a reputação dos seus amigos, avisa-o de que as visitas do Sr. Carlos a sua casa estão já dando que falar à vizinhança. Lembre-se de que, pela sua reputação, esse rapaz é uma visita pouco própria em qualquer casa onde existe uma menina de dezoito anos.»

Assinado: «Um amigo desinteressado.»

Carlos, acabando de ler esta carta, passou-a para Manuel Quintino, dizendo-lhe com profundo desprezo:

– Estas são ferroadas de insectos que se esmagam com o pé.

– Não julgue que me deixo levar por esses protestos de amizade desinteressada – disse Manuel Quintino –; mas, tanto pior se, como suspeito, há antes malevolência nisto. A boca, donde saíram estes conselhos, espalhará a calúnia; e, se tenho coragem para me rir dela, quando se refira a mim só, estalar-me-ia o coração, se de minha filha se dissesse uma só palavra que a afligisse, que lhe causasse uma lágrima.

– Tem razão – respondeu Carlos, curvando a cabeça, pensativo.

– Agora diga; que me aconselha que faça? Confio no seu cavalheirismo, e por isso é a si e a mais ninguém que peço conselho.

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pág. 320 (Capítulo 28)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 320

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432