Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 28: XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto

Página 322
a Antónia sofrer a contrariedade das suas visitas.

Mas, se na sobredita vizinhança houvesse quem depois da meia-noite estivesse acordado, poderia às vezes ver passar um homem por diante das janelas fechadas daquela casa, e olhá-las como se esperando que elas afinal se cansassem de sua desesperadora discrição.

Tais eram já as proporções que havia tomado em Carlos o que Jenny chamara uma fantasia!

Porque esse homem era ele.

Chegara-se a Maio. Era uma destas noites de luar, serenas, tépidas, perfumadas, em que um instinto irresistível nos leva a procurar as árvores, a escutar de perto o murmúrio das fontes. Abafa-se nas salas.

Demorara-se Carlos desta vez diante das janelas de Cecília em uma daquelas contemplações, de que só os espíritos frios podem ter ânimo de zombar, quando certo rumor na pequena janela de grades, que se abria no muro do quintal de Manuel Quintino, lhe chamou a atenção.

Carlos retirou-se para a parte assombrada da rua e esperou. A janela abriu-se, e o luar, batendo em cheio do lado dela, iluminou a suave figura de Cecília.

Carlos permaneceu imóvel.

Cecília estava só; e quem, senão ela, tinha naquela casa imaginação bastante para se seduzir com os encantos de uma noite assim?

Recostando-se à janela, a filha de Manuel Quintino conservava-se também imóvel. Havia tanta languidez no reclinar da cabeça sobre a mão, tanta beleza e poesia naquela figura pálida, que a fantástica luz do luar mais pálida fazia, que, ainda sem ter a imaginação de Carlos, era possível quase acreditar por momentos ser aquilo uma aparição de noite de Estio, como, nas suas lendas, as concebe a fantasia popular.

Que lisonjeira voz segredou ao ouvido de Carlos que era nele que aquela mulher pensava? Vaidades de coração, e tantas

<< Página Anterior

pág. 322 (Capítulo 28)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 322

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432