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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 329

Operou-se completa mudança de cena, digna, pela celeridade, de um tablado inglês. – Em poucos momentos, um bando de rapazes invadiu o quarto; e cedo, cadeiras, mesas, sofás e leito foram ocupados por eles, como por um enxame de abelhas. – Tudo era desordem minutos depois.

– Então que é isto? Que é isto? Que quer dizer esta misteriosa reclusão? – perguntava um, estendendo-se no sofá, em postura digna do sultão.

– Como se há-de explicar este eclipse total de um dos mais luminosos astros da nossa brilhante plêiade? A Vénus do proscénio do S. João chora por ti; o génio que preside à feitura das costeletas da Águia esmorece; no Guichard a deusa do paradoxo lamenta um dos seus mais fervorosos servos; é uma série de calamidades por aí além. Como as explicas tu? – Isto dizia outro, vazando meio vidro de curious essence sobre o fino lenço de bretanha.

– Expliquem-nas como quiserem – respondeu Carlos, sentando-se com enfado, que não procurava encobrir.

– Ora que tem isso que explicar? – disse o do sofá. – Não falaram aí em eclipses? As minhas recordações de liceu dizem-me que o eclipse é em geral o resultado da interposição de um astro entre nós e o eclipsado. Procurem aquele que no-lo tem oculto…

– Imaginem que estive doente – acudiu Carlos, tentando desviar a conversa da direcção que este seu amigo lhe dera.

– Rejeitada a explicação por maioria – bradou um rapaz louro e de modos feminis, tipo de Apolo, de cake, cartaz vivo de cabeleireiros e alfaiates, ajeitando ao espelho as complicadas madeixas de um cabelo monumental.

– Por unanimidade – bradaram mais dois.

– Adopto-a eu – contraditou um, ocupado a despejar quantas gavetas encontrava à procura de lume para acender o charuto. – Carlos está doente, mas… do coração… Pois que é o amor?

– Ah che d'amore

fiamma io sento

trauteou o do toucador, cantando a ária de Rosina.

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pág. 329 (Capítulo 29)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 329

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432