Acudiu ao chamamento o seu criado particular.
Carlos entregou-lhe a carta, dizendo:
– Leva ao seu destino.
Ia o criado a retirar-se, quando ele o reteve para lhe dizer ainda a meia voz:
– Se te perguntarem… diz que é do mando de… miss Jenny.
O criado, mostrando ter compreendido, saiu.
Todos haviam guardado silêncio até então, seguindo com pasmo os movimentos de Carlos.
Depois de o criado se retirar, ainda este silêncio se manteve por algum tempo; afinal uma voz disse:
– Bonito final de acto! O criado sai, Carlos senta-se sorumbático, e os outros actores contemplam-no atónitos e… aparvalhados – Tableau.
A estas palavras, todos se entreolharam e, como se se achassem uns aos outros ridículos, soltaram uníssona gargalhada.
Carlos julgou melhor sorrir também, ainda que interiormente se lhe estivesse redobrando a impaciência.
– Palavra de honra! – continuou um – que nunca vi Carlos assim. Está romântico.
– Ultra!
– Furioso!
– Como um leão!
– Como um touro!
– Como um turco! – disse o de tendências orientalistas.
– Vá, vá Carlos; observa os bons princípios. O amor fez-te selvagem. Civiliza-te.
– Conta-nos a história dessa Cecília.
– É alta, ou baixa?
– Morena, ou loura?
– Tipo grego, ou oriental?
– Aposto que é a do dominó.
– Com certeza.
– Vá, homem; conta-nos como isso principiou.
– Olha que uma paixão concentrada é um ninho de aneurismas; cautela! – disse o médico das doenças de alma.
– Cecília! É eufónico na verdade!
– Peço-lhes que não continuem a falar assim de um nome que eu… respeito.
Uma risada geral acolheu o pedido.
– Ah! ah! ah! Estás muito bom!
– Estás delicioso!
– Nunca o vi apurado a este ponto!
– Ó Carlos!
– Povero amico!
O rubor de despeito e de cólera tingiu as faces de Carlos.