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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 335

– Repito. Que eu respeito. Julgo que me darão licença para falar sério alguma vez.

– Ah! Decerto. Mas, sempre que isso acontecer, eu não me hei-de poder ter com riso.

– Tu a falares sério!

– Então de facto estás apaixonado? Pois conta-nos isso. Bem sabes que os amigos são para as ocasiões.

– Amicus certus…

– Canta a tua ária de confidência, que o coro te secundará…

– Quando não, procuraremos, descobriremos, e depois então seremos implacáveis, cruéis! Vê lá!

– Fatal dominó!

– Pois acreditas?

– É ele com certeza.

– Ó Carlos, acautela-te. Colheste a flor em mau terreno; apanhaste a pérola em água bem envolta, um baile de máscaras!

Carlos tentou obrigá-los ao silêncio pelo silêncio.

– Estou resolvido a não lhes dar explicações. Por isso quando quiserem deixar de ser inutilmente importunos…

Ainda por muito tempo não adoptaram eles essa resolução. A assembleia manteve-se em ruidosa e desordenada discussão por mais de meia hora. Carlos fingia ler.

Enfim, viu-os sair e respirou como se livre de um peso que lhe comprimisse o peito.

– Adeus, Carlos, muchas venturas! – dizia um.

– Faço votos pela tua felicidade – secundava outro.

– Adeus, adeus.

Um cantava:

Ai quem me dera em Sevilha,

Onde a travessa espanhola

Sob a elegante mantilha

As negras tranças enrola.

E a alegre companhia abandonou tumultuariamente o quarto.

XXX

Peso que pode ter uma leviandade

Com a saída dos amigos, não se dissipou imediatamente em Carlos a má impressão que lhe deixara aquela visita.

Não sei que haja alguém tão indiferente e sobranceiro à opinião alheia que possa ouvir, sem se comover e revoltar, o nome só que seja de qualquer pessoa estimada, pronunciado menos reverentemente por lábios estranhos e de mistura com as frases e palavras de uma conversa leviana.

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pág. 335 (Capítulo 29)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 335

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432