– Repito. Que eu respeito. Julgo que me darão licença para falar sério alguma vez.
– Ah! Decerto. Mas, sempre que isso acontecer, eu não me hei-de poder ter com riso.
– Tu a falares sério!
– Então de facto estás apaixonado? Pois conta-nos isso. Bem sabes que os amigos são para as ocasiões.
– Amicus certus…
– Canta a tua ária de confidência, que o coro te secundará…
– Quando não, procuraremos, descobriremos, e depois então seremos implacáveis, cruéis! Vê lá!
– Fatal dominó!
– Pois acreditas?
– É ele com certeza.
– Ó Carlos, acautela-te. Colheste a flor em mau terreno; apanhaste a pérola em água bem envolta, um baile de máscaras!
Carlos tentou obrigá-los ao silêncio pelo silêncio.
– Estou resolvido a não lhes dar explicações. Por isso quando quiserem deixar de ser inutilmente importunos…
Ainda por muito tempo não adoptaram eles essa resolução. A assembleia manteve-se em ruidosa e desordenada discussão por mais de meia hora. Carlos fingia ler.
Enfim, viu-os sair e respirou como se livre de um peso que lhe comprimisse o peito.
– Adeus, Carlos, muchas venturas! – dizia um.
– Faço votos pela tua felicidade – secundava outro.
– Adeus, adeus.
Um cantava:
Ai quem me dera em Sevilha,
Onde a travessa espanhola
Sob a elegante mantilha
As negras tranças enrola.
E a alegre companhia abandonou tumultuariamente o quarto.
XXX
Peso que pode ter uma leviandade
Com a saída dos amigos, não se dissipou imediatamente em Carlos a má impressão que lhe deixara aquela visita.
Não sei que haja alguém tão indiferente e sobranceiro à opinião alheia que possa ouvir, sem se comover e revoltar, o nome só que seja de qualquer pessoa estimada, pronunciado menos reverentemente por lábios estranhos e de mistura com as frases e palavras de uma conversa leviana.