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Capítulo 29: XXIX - Os amigos de Carlos

Página 336

Um delicado pudor de coração sobressalta-se, quando assim exposto a olhares profanos o ídolo do seu mais puro e secreto culto.

Desgostoso com os outros, não estava Carlos mais satisfeito consigo. Soltara inconsideradamente da mão a carta escrita a Cecília, e só agora reflectia na pouca delicadeza com que o fizera, e na inconveniente escolha de emissário. Um outro motivo de inquietação o perturbava ainda. No momento de expedir o criado com a mensagem, esquecera-lhe que, sendo dia santo, Manuel Quintino estaria provavelmente em casa; e como poderia Cecília ocultar-lhe o conteúdo da carta, ainda quando lhe dissesse que era de Jenny?

Todas estas considerações foram, a pouco e pouco, levando Carlos a um desses estados de impaciência e de agitação de espírito, inconciliáveis com o repouso do corpo, o qual provocam a acção, ao movimento.

As indefinidas aspirações que, em tais estados, sentimos, sendo superiores aos meios de que dispomos para satisfazê-las, acumulam em nós excessos de energia, que se revelam por uma actividade sem plano, sem fim, à qual cedemos como a necessidade orgânica, não tentando, nem conseguindo regulá-la ou conduzi-la.

Por isso, como se no limitado espaço do quarto abafasse, Carlos levantou-se para sair.

Transpunha já a porta que abria do quarto para o jardim, quando o estalar da areia sob o piso leve de alguém que caminhava na rua próxima lhe fez desviar a cabeça.

Por pouco lhe escapava dos lábios uma exclamação de prazer.

Era Cecília.

Esta inesperada aparição vinha tão completamente realizar os secretos e vagos desejos que o estavam agitando; parecia tanto ser o misterioso efeito das evocações do próprio coração, que – ilusões só concebidas por quem já assim as sentiu alguma vez – Carlos quase acreditou ser verdadeiro milagre de amor a presença de Cecília, ali, naquele momento.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 336

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432