Uma Família Inglesa - Cap. 29: XXIX - Os amigos de Carlos Pág. 337 / 432

E tanto se convenceu disso, que nem tentou dissimular o que estava sentindo.

Viu-a e persuadiu-se de que viera ao apelo que ele lhe dirigira, de que a leitura da carta bastara para a determinar, de que, cheia de confiança, vinha para dizer-lhe que aceitava a homenagem do amor que ele lhe oferecia, e o pagava com o seu.

Dominado por este pensamento, do qual rirá somente o leitor que tenha já passado os quarenta anos, Carlos estendeu a mão trémula para a pobre rapariga que, mais trémula ainda, o fitava, e murmurou:

– Oh! Obrigado, Cecília; obrigado por ter vindo!

Cecília olhava-o admirada; não compreendia ou receava compreender demasiado o sentido daquelas palavras.

– Agora ouça-me, ouça-me por piedade, Cecília; quero dizer-lhe tudo o que em mim se tem passado desde que pela primeira vez a encontrei; ouça…

E naturalmente Carlos conservava entre as suas a mão de Cecília, e esta, como surpreendida ainda pela súbita cena que estava bem longe de esperar, parecia haver perdido a consciência do que se passava, e nem tentava retirar-se.

Carlos prosseguiu:

– Cecília, se veio, foi porque acreditou que havia sinceridade nas palavras que eu lhe disse, não é verdade? Não é verdade que não suspeitará nunca mais que seja um simples galanteio indigno de si o que me leva a repetir-lhe uma, e mil vezes, que a amo?

Estas palavras restituíram a Cecília a consciência que perdera quase. O sangue abandonou-lhe subitamente as faces, para cedo afluir com mais violência a elas; saiu-lhe dos lábios um grito que mal pôde reprimir, e tentou retirar a mão, que Carlos continuava a segurar nas suas.

– Sr. Carlos! – disse ela, com a voz agitada de sobressalto e confusão.

– Não se retire assim, Cecília. Nada receie. Amo-a muito, mas respeito-a tanto, quanto a amo; e mais depressa…

Não pôde continuar; um rumor de passos e de vozes, que se ouviu na rua, e já próximo ao portão do jardim, fê-lo estremecer.





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