O sangue abandonou-lhe subitamente as faces, para cedo afluir com mais violência a elas; saiu-lhe dos lábios um grito que mal pôde reprimir, e tentou retirar a mão, que Carlos continuava a segurar nas suas.
– Sr. Carlos! – disse ela, com a voz agitada de sobressalto e confusão.
– Não se retire assim, Cecília. Nada receie. Amo-a muito, mas respeito-a tanto, quanto a amo; e mais depressa…
Não pôde continuar; um rumor de passos e de vozes, que se ouviu na rua, e já próximo ao portão do jardim, fê-lo estremecer.
Teve um pressentimento; obedecendo-lhe, atraiu rapidamente Cecília para dentro do quarto, em cujo limiar se passara esta curta cena, e fechou sobre si a porta com precipitação.
Cecília olhava-o assustada.
Ia a bradar, quando Carlos lhe pôs a mão na boca, dizendo:
– Silêncio por piedade!
Foi prudente. O jardim era já de novo invadido por a mesma turba de estouvados que, momentos antes, abandonara o campo. Chegaram ainda a tempo de verem fechar a porta do quarto e saudaram a descoberta com gargalhadas.
Passados momentos, escutavam-se-lhes as vozes de fora.
– Abre a porta, abre a porta; agora é inútil a dissimulação, Carlos. Seguimo-la, tivemos um pressentimento; vimo-la entrar. Há-de ser ela. Não o negues. Abre!
Cecília, ao escutar estas palavras, sentia-se desfalecer.
– Oh! meu Deus! – exclamou, erguendo assustada as mãos para o céu.
Carlos parecia fulminado.
– Então, Carlos, então? Abre, que maneiras novas são essas? Tu não eras assim.
– Isso fica-te mal.
– Só queremos vê-la e retiramo-nos.
– Vê-la e apresentar-lhe os nossos respeitos.
– Então, então?
Carlos teve um momento de desespero. Sem bem atender no que fazia, sem calcular consequências, deu um passo em direcção da porta, com o olhar inflamado e os lábios trémulos de cólera.