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Capítulo 30: XXX - Peso que pode ter uma leviandade

Página 347

Impediu-lhe porém a passagem Cecília, que quase lhe caiu de joelhos aos pés.

– Quer-me perder, Sr. Carlos?! – dizia ela, com a voz tomada de aflição. – Quer-me perder?!

Carlos parou, e, tentando erguê-la, disse, não menos comovido:

– Cecília; juro-lhe pelo que há de mais sagrado que…

Neste momento uma das vozes dizia:

– Então, avarento, não nos queres mostrar essa tua Cecília?…

Estas palavras fizeram estremecer a filha de Manuel Quintino.

Ao ouvir assim o seu nome pronunciado, e daquela maneira, por lábios estranhos, ergueu-se com um movimento enérgico, cheio de orgulho e de dignidade revoltada, e, cobrindo-se-lhe as faces do rubor da indignação, disse, voltando para Carlos o olhar cheio de amargura:

– Em que lhe tinha merecido eu isto, senhor?

– Cecília!… – balbuciou Carlos, empalidecendo.

Foi ela a que desta vez, afastando-o com soberana altivez, caminhou para a porta em passo firme e seguro.

Carlos colocou-se diante dela.

– Que vai fazer? – exclamou com voz suplicante.

– Deixe-me! Menos de recear para mim é, ali fora, a presença dessa gente do que aqui a sua protecção generosa.

Esta última palavra saiu-lhe dos lábios quase expressiva de desprezo.

– Cecília, pois julga?…

– Ali pode haver crueldade, que nem as minhas lágrimas comovam; mas aqui… há pior… há a infâmia… que me feriu no coração.

E o tom comovido, com que disse isto, mostrava começar a dissipar-se já a energia de que se inspirara ao princípio.

À palavra «infâmia» Carlos deixou também o irresoluto embaraço que o enleara até então; tomando as mãos de Cecília e olhando-a em face, disse-lhe, tendo na voz toda a eloquência da sinceridade:

– Cecília, não há tempo agora para me justificar. Mas aceite-me um juramento. Pela memória de minha mãe, pela vida de meu pai, pela felicidade de minha irmã lhe juro que não mereço essas suspeitas.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 347

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432