Impediu-lhe porém a passagem Cecília, que quase lhe caiu de joelhos aos pés.
– Quer-me perder, Sr. Carlos?! – dizia ela, com a voz tomada de aflição. – Quer-me perder?!
Carlos parou, e, tentando erguê-la, disse, não menos comovido:
– Cecília; juro-lhe pelo que há de mais sagrado que…
Neste momento uma das vozes dizia:
– Então, avarento, não nos queres mostrar essa tua Cecília?…
Estas palavras fizeram estremecer a filha de Manuel Quintino.
Ao ouvir assim o seu nome pronunciado, e daquela maneira, por lábios estranhos, ergueu-se com um movimento enérgico, cheio de orgulho e de dignidade revoltada, e, cobrindo-se-lhe as faces do rubor da indignação, disse, voltando para Carlos o olhar cheio de amargura:
– Em que lhe tinha merecido eu isto, senhor?
– Cecília!… – balbuciou Carlos, empalidecendo.
Foi ela a que desta vez, afastando-o com soberana altivez, caminhou para a porta em passo firme e seguro.
Carlos colocou-se diante dela.
– Que vai fazer? – exclamou com voz suplicante.
– Deixe-me! Menos de recear para mim é, ali fora, a presença dessa gente do que aqui a sua protecção generosa.
Esta última palavra saiu-lhe dos lábios quase expressiva de desprezo.
– Cecília, pois julga?…
– Ali pode haver crueldade, que nem as minhas lágrimas comovam; mas aqui… há pior… há a infâmia… que me feriu no coração.
E o tom comovido, com que disse isto, mostrava começar a dissipar-se já a energia de que se inspirara ao princípio.
À palavra «infâmia» Carlos deixou também o irresoluto embaraço que o enleara até então; tomando as mãos de Cecília e olhando-a em face, disse-lhe, tendo na voz toda a eloquência da sinceridade:
– Cecília, não há tempo agora para me justificar. Mas aceite-me um juramento. Pela memória de minha mãe, pela vida de meu pai, pela felicidade de minha irmã lhe juro que não mereço essas suspeitas.