Um hipócrita poderia pronunciar este mesmo juramento, mas não com o tom de persuasão e de verdade que a voz de Carlos possuía naquele instante.
Não se mente assim.
Cecília acreditou-o; todas as suspeitas que, por momentos, lhe haviam assombrado o espírito se desvaneceram.
Extinta a indignação, com a força fictícia que emprestara àquela natureza feminina, readquiriu o império perdido à brandura própria do sexo, que com razão nela confia, como na mais irresistível arma.
Assomaram-lhe por isso, e abundantes, as lágrimas aos olhos, e, cortada de soluços, só pôde murmurar, apertando convulsivamente a mão de Carlos:
– Salve-me! Salve-me então, Sr. Carlos, que estou perdida!
O ruído que, durante esta rápida cena, mais rápida a passar-se do que a descrever-se, não havia cessado, redobrava agora de veemência.
Carlos só achou um meio para sair daquela situação. Correu à sala da biblioteca, e abriu. Cecília fugiu para ela e quase instintivamente fechou a porta atrás de si.
O expediente era arriscado ainda, porque os criados podiam ver aparecer Cecília daquela parte da casa, o que não menos a comprometeria. Não ocorreu outro porém à lembrança de Carlos.
Depois de procurar por alguns instantes desvanecer todos os vestígios da agitação que a cena descrita lhe causara, foi abrir finalmente a porta aos seus importunos amigos.
– Então tomaram-me hoje para vítima de motejos, meus senhores?
– Deixa-te de ares de tirano de comédia, que te não vão bem. Vamos a saber que é dela?
– Quem?
– Ora, quem! A rapariga!
– Continuam as zombarias?
– Homem, não o negues. Encontrámo-la ali acima, à esquina. Não sei qual foi de nós que teve um diabólico pressentimento. Seguimo-la de longe. Vimo-la hesitar, ao chegar ao portão. Sintoma infalível! Afinal entrou.