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Capítulo 30: XXX - Peso que pode ter uma leviandade

Página 348

Um hipócrita poderia pronunciar este mesmo juramento, mas não com o tom de persuasão e de verdade que a voz de Carlos possuía naquele instante.

Não se mente assim.

Cecília acreditou-o; todas as suspeitas que, por momentos, lhe haviam assombrado o espírito se desvaneceram.

Extinta a indignação, com a força fictícia que emprestara àquela natureza feminina, readquiriu o império perdido à brandura própria do sexo, que com razão nela confia, como na mais irresistível arma.

Assomaram-lhe por isso, e abundantes, as lágrimas aos olhos, e, cortada de soluços, só pôde murmurar, apertando convulsivamente a mão de Carlos:

– Salve-me! Salve-me então, Sr. Carlos, que estou perdida!

O ruído que, durante esta rápida cena, mais rápida a passar-se do que a descrever-se, não havia cessado, redobrava agora de veemência.

Carlos só achou um meio para sair daquela situação. Correu à sala da biblioteca, e abriu. Cecília fugiu para ela e quase instintivamente fechou a porta atrás de si.

O expediente era arriscado ainda, porque os criados podiam ver aparecer Cecília daquela parte da casa, o que não menos a comprometeria. Não ocorreu outro porém à lembrança de Carlos.

Depois de procurar por alguns instantes desvanecer todos os vestígios da agitação que a cena descrita lhe causara, foi abrir finalmente a porta aos seus importunos amigos.

– Então tomaram-me hoje para vítima de motejos, meus senhores?

– Deixa-te de ares de tirano de comédia, que te não vão bem. Vamos a saber que é dela?

– Quem?

– Ora, quem! A rapariga!

– Continuam as zombarias?

– Homem, não o negues. Encontrámo-la ali acima, à esquina. Não sei qual foi de nós que teve um diabólico pressentimento. Seguimo-la de longe. Vimo-la hesitar, ao chegar ao portão. Sintoma infalível! Afinal entrou.

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pág. 348 (Capítulo 30)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 348

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432