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Capítulo 30: XXX - Peso que pode ter uma leviandade

Página 350

– É de mais! Exijo-lhes que saiam daqui.

– E eu exijo silêncio. Alguém se aproxima. É ela! Incessu patuit dea… É mais razoável do que tu; veio às boas.

Carlos lembrou-se da anterior tentativa de Cecília e receou que se renovasse.

Agora já ele não podia impedir os passos. Perdeu com esta ideia toda a força moral; sentiu-se desalentado.

A chave girou na fechadura.

– Desbarretem-se, meus senhores. Ei-la enfim! – disse um dos do rancho.

Carlos fechou os olhos, como se na presença de perigo iminente; a mão apertava-se-lhe convulsivamente sobre a caixa de revólveres que tinha perto de si.

Em vez, porém, do tumulto que esperava ouvir, e que Deus sabe a que excesso o arrastaria, seguiu-se tão profundo silêncio, que o obrigou a erguer a cabeça surpreendido.

Todos os rapazes, havia pouco ainda tão turbulentos, recuavam agora calados e descobertos e como procurando ocultar-se uns com os outros.

No limiar da porta que se abrira, aparecia a figura cândida e serena de Jenny, com o braço passado pela cinta de Cecília, a cuja cabeça, suavemente animada por um sorriso de melancolia, sustentado a custo, servia o seu ombro de apoio.

Jenny conservou-se por algum tempo assim, olhando-os com gesto composto e admirado, que parecia subjugá-los.

Havia nesta cena um quadro que impressionava.

As feições angélicas da irmã de Carlos revelavam tanta doçura e tanta nobreza ao mesmo tempo, e as de Cecília tanta melancolia e também tanta confiança na amiga a que se amparava, que os mais levianos do bando curvaram respeitosamente a cabeça diante daquelas duas mulheres.

Só um olhar como o de Carlos, exercitado no estudo do rosto da irmã, podia notar-lhe nos lábios um leve tremor, a denunciar que àquela aparente placidez não correspondia uma completa serenidade de coração.

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pág. 350 (Capítulo 30)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 350

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432