– É de mais! Exijo-lhes que saiam daqui.
– E eu exijo silêncio. Alguém se aproxima. É ela! Incessu patuit dea… É mais razoável do que tu; veio às boas.
Carlos lembrou-se da anterior tentativa de Cecília e receou que se renovasse.
Agora já ele não podia impedir os passos. Perdeu com esta ideia toda a força moral; sentiu-se desalentado.
A chave girou na fechadura.
– Desbarretem-se, meus senhores. Ei-la enfim! – disse um dos do rancho.
Carlos fechou os olhos, como se na presença de perigo iminente; a mão apertava-se-lhe convulsivamente sobre a caixa de revólveres que tinha perto de si.
Em vez, porém, do tumulto que esperava ouvir, e que Deus sabe a que excesso o arrastaria, seguiu-se tão profundo silêncio, que o obrigou a erguer a cabeça surpreendido.
Todos os rapazes, havia pouco ainda tão turbulentos, recuavam agora calados e descobertos e como procurando ocultar-se uns com os outros.
No limiar da porta que se abrira, aparecia a figura cândida e serena de Jenny, com o braço passado pela cinta de Cecília, a cuja cabeça, suavemente animada por um sorriso de melancolia, sustentado a custo, servia o seu ombro de apoio.
Jenny conservou-se por algum tempo assim, olhando-os com gesto composto e admirado, que parecia subjugá-los.
Havia nesta cena um quadro que impressionava.
As feições angélicas da irmã de Carlos revelavam tanta doçura e tanta nobreza ao mesmo tempo, e as de Cecília tanta melancolia e também tanta confiança na amiga a que se amparava, que os mais levianos do bando curvaram respeitosamente a cabeça diante daquelas duas mulheres.
Só um olhar como o de Carlos, exercitado no estudo do rosto da irmã, podia notar-lhe nos lábios um leve tremor, a denunciar que àquela aparente placidez não correspondia uma completa serenidade de coração.