Era contudo afável e segura a voz com que ela se dirigiu aos amigos de Carlos.
– Peço desculpa de os ter feito esperar. Julgámos que meu irmão tinha já saído e viemos ambas procurar um livro.
E depois, mostrando-lhes Cecília:
– É minha amiga… ou mais do que amiga… é quase minha irmã. – E acrescentou, sorrindo para ela: – Cedo o será, não é verdade?
Cecília estremeceu e voltou para Jenny o olhar admirado. Ia talvez a falar.
Jenny reprimiu-a, apertando-lhe ocultamente a mão; e prosseguiu, sorrindo:
– Perdoe-me a indiscrição, Cecília; talvez até nem indiscrição fosse já porque… estes senhores são… os amigos de meu irmão Carlos.
E estas palavras soube dizê-las Jenny com delicada flexão de ironia na voz, que aumentou o embaraço dos que a escutavam.
Curvando-se ligeiramente para eles, Jenny saiu da sala com Cecília.
Carlos não ousou erguer os olhos para a irmã.
Vendo-a sair, voltou-se para os seus antigos companheiros, que principiavam a formular desculpas, e disse-lhes com provocadora frieza:
– Espero que estará satisfeita a sua curiosidade. Ordenam mais alguma coisa?
– Desculpa, Carlos; nós julgámos…
– Tu bem vês que não sabíamos…
– Ó menino, acredita que…
– Palavra, que pensei que era a do dominó.
– Também eu.
– Espero que não leves a mal.
– Aquilo era brincadeira.
– Adeus, Carlos; aparece. Faz-te visível.
– Mil perdões e… e parabéns.
E deixaram o quarto.
Na rua diziam:
– E esta!
– Carlos casar-se!
– Requiescat in pace!
– Ámen.
A porta a fechar-se sobre o último, e Carlos a correr à biblioteca para ajoelhar aos pés da irmã.
– Jenny! Jenny! O amor que eu te tinha é pouco para o que te devo. É preciso adorar-te, minha irmã.
Jenny ergueu-o e, olhando-o com expressão triste e meiga, disse:
– Deixa esse excesso de afeição para alguém, que já agora tem mais direito a ela do que eu.