Avisei-o.
– Ó Jenny!
– Avisei-o; porque, bem vê, Cecília, todos os sacrifícios são dolorosos. Sacrificar orgulhos, sacrificar vaidades, sacrificar até caprichos, tudo é sacrificar; e eu não imagino que isso se faça sem esforço; mas os sacrifícios do coração… oh! esses…
– Matam! – concluiu Cecília, quase insensivelmente.
– Pois não matam? Isso sabia… quero dizer – emendou a sorrir – isso supunha eu. Por isso pedi a Carlos que se esquecesse… Sim, que se esquecesse; no tempo em que eu lhe pedi isto, talvez ainda não viesse daí grande mal.
Cecília não respondeu. Um suspiro respondeu por ela.
– E quem sabe – prosseguiu Jenny, olhando-a – se seria eu a que me enganava ao pensar assim! É certo, porém, que meu irmão não me obedeceu.
– Não? – interrompeu Cecília, com expressão de dúvida.
– Não; longe de esquecer, avivou impressões, e, em poucos dias, eram já tão fundas, que me assustavam.
Cecília meneou a cabeça ainda, como quem duvida.
– Vamos, Cecília; não me olhe dessa maneira. Quem lhe ensinou a desconfiar assim? Com quem aprendeu esses modos de sorrir, tão pouco da sua idade?
Cecília baixou, silenciosa, a cabeça.
– Convencida de que se passavam coisas novas no coração de meu irmão…
– E convenceu-se disso?
– Convenci. Não eram os antigos caprichos muito meus conhecidos. Não eram aquelas fantasias, que tão bem se davam com os seus hábitos de vida, que nem o obrigavam a alterá-los.
– Não eram?
– Não. Com grande espanto meu, vi-o mudar. Fez voluntariamente o que nem os meus rogos… – pois eu creio que bem vontade teria de me satisfazer –, o que nem os meus rogos haviam conseguido. Desde que o percebi, desde que assim o vi tão outro do que sempre fora, mudei também de pensar. O meu único fim, Cecília, creia, era a felicidade de Carlos e a sua.