– Que quer isto dizer, Jenny? – perguntou Carlos, encontrando-se com a irmã à porta da sala.
– Que está a chegar o momento de dizeres adeus às tuas leviandades, Charles. Quero ver que fundo de sisudez há neste meu estouvado irmão.
– Mas…
– Repara que esperam por nós.
E entrando para a sala, tomaram lugares à mesa.
O leitor não espera de mim a fiel enumeração de todos os pratos com que se adornou neste dia a mesa, sempre abundante e variada, de Mr. Richard.
Nada faltou de tudo quanto possui o cunho característico da cozinha britânica, desde o roast-beef ao plum-pudding, desde a batata ao chester.
Os três ingleses fizeram as devidas honras à maestria do cozinheiro. Mr. Morlays chegou a sorrir; Mr. Brains esgotou todas as interjeições do vocabulário pátrio e assegurou que nem no Erechtheum Club, em St. James square, se jantava melhor; Mr. Whitestone contou todas as suas histórias e expôs teorias de culinária.
Jenny e Carlos eram os únicos silenciosos e preocupados. Jenny via com impaciência a morosidade do jantar e escutava distraída os cumprimentos dos convivas. Carlos tremeu, como nunca, perante o inesgotável tesouro das reminiscências paternas.
Com todos os vagares foi o jantar aproximando-se daquela fase crítica dos jantares, especialmente ingleses, em que a gravidade e a etiqueta são postas de lado inteiramente, em que a parte feminina levanta arraiais e foge amedrontada ante as bandeiras da orgia que, aos primeiros toasts, começam a desenrolar-se; e em que os convivas masculinos, livres do único laço que os refreava, preparam-se a reproduzir nas salas cenas vulgares em mais baixos tablados.
Nada falta: vinhos entornados, cristais partidos, toasts intermináveis, discussões em que ninguém sabe o que discute, corpos estendidos por debaixo da mesa e, em alguns, um sono digno dos sete dormentes.