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Capítulo 33: XXXIII - Em honra de Jenny

Página 376

– Que quer isto dizer, Jenny? – perguntou Carlos, encontrando-se com a irmã à porta da sala.

– Que está a chegar o momento de dizeres adeus às tuas leviandades, Charles. Quero ver que fundo de sisudez há neste meu estouvado irmão.

– Mas…

– Repara que esperam por nós.

E entrando para a sala, tomaram lugares à mesa.

O leitor não espera de mim a fiel enumeração de todos os pratos com que se adornou neste dia a mesa, sempre abundante e variada, de Mr. Richard.

Nada faltou de tudo quanto possui o cunho característico da cozinha britânica, desde o roast-beef ao plum-pudding, desde a batata ao chester.

Os três ingleses fizeram as devidas honras à maestria do cozinheiro. Mr. Morlays chegou a sorrir; Mr. Brains esgotou todas as interjeições do vocabulário pátrio e assegurou que nem no Erechtheum Club, em St. James square, se jantava melhor; Mr. Whitestone contou todas as suas histórias e expôs teorias de culinária.

Jenny e Carlos eram os únicos silenciosos e preocupados. Jenny via com impaciência a morosidade do jantar e escutava distraída os cumprimentos dos convivas. Carlos tremeu, como nunca, perante o inesgotável tesouro das reminiscências paternas.

Com todos os vagares foi o jantar aproximando-se daquela fase crítica dos jantares, especialmente ingleses, em que a gravidade e a etiqueta são postas de lado inteiramente, em que a parte feminina levanta arraiais e foge amedrontada ante as bandeiras da orgia que, aos primeiros toasts, começam a desenrolar-se; e em que os convivas masculinos, livres do único laço que os refreava, preparam-se a reproduzir nas salas cenas vulgares em mais baixos tablados.

Nada falta: vinhos entornados, cristais partidos, toasts intermináveis, discussões em que ninguém sabe o que discute, corpos estendidos por debaixo da mesa e, em alguns, um sono digno dos sete dormentes.

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pág. 376 (Capítulo 33)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 376

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432