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Capítulo 33: XXXIII - Em honra de Jenny

Página 379

Eu creio que nem a filosofia e o landwehr da Alemanha; nem o knout e sombria política da Rússia; nem os fuzilamentos e o militarismo da Espanha; nem os meetings e os fenians da Inglaterra; nem o sufrágio universal e a febre napoleónica da França têm conseguido tornar as respectivas nações mais avessas ao canto do que a nossa. Com o nosso céu, com a nossa vegetação, com os nossos vinhos e com a nossa língua e com tão pouca disposição para nos ocuparmos de coisas sérias – e nesse particular nenhum povo nos leva a palma – esta quase aversão que temos ao canto denota uma índole essencialmente sisuda e pouco de gente do meio-dia.

Em qualquer jantar nacional, qual seria o conviva que teria coragem para imitar Mr. Brains, satisfazendo ao pedido do seu anfitrião e dispondo-se a cantar?

E, se algum houvesse, com que olhos de escandalizados o não encarariam os outros?

Ninguém há mais pusilânime diante do ridículo do que o português; ninguém que mais corajosamente o encare de face do que o cidadão britânico. Ora o ridículo imita os costumes insidiosos de certos cães, que mordem as pessoas que lhes fogem, e recuam diante de quem os espera a pé firme.

O que é verdade é que Mr. Brains, vergando-se sobre as costas da cadeira, com as pernas estendidas, os olhos meio fechados, a mão pousada sobre o corpo, principiou a cantar com voz de impossível classificação, em timbre nasal, e em música inglesmente monótona, uma canção de Sharpe feita para ocasiões como esta.

O sentido era pouco mais ou menos este:

Vá! sem medo enchei os copos

De vinho, cor de rubim;

Levem-no aos lábios as damas;

Consagrá-lo-ão assim.

No peito o vinho alimenta

Da amizade o almo calor,

E o engenho dele regado,

Ascende em voo maior.

Enchei os copos, fiai-vos

Nesta bebida de reis

Contanto que…

Estava escrito que os dotes vocais e os talentos artísticos de Mr.

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pág. 379 (Capítulo 33)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 379

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432