Era um destes expedientes heróicos, que tudo podem perder ou salvar.
Servem-se deles, em ocasiões assim, os homens de coragem e de suficiente confiança em si próprios, para não recearem trair no semblante a posição crítica em que ficam colocados, depois de os empregarem.
A esses tais é quase sempre o meio eficaz e salvador.
Manuel Quintino não ousou aceitar a prova que se lhe oferecia. – Os hábitos de respeito, contraídos em longos anos de serviço e que um momento de indignação, quase de delírio, lhe tinha feito esquecer, dominaram-no de novo, restituindo-lhe a sua natural brandura e timidez de carácter.
– Perdão – disse ele, quase com humildade e como arrependido já da excitação anterior. – Perdão; eu julguei…
– Está bom, está bom – atalhou Mr. Richard com modo de quem não desejava continuar no assunto. – É preciso ser menos… pronto em obedecer a… certas exaltações… inconvenientes.
O epíteto foi dito depois de alguma hesitação em adoptá-lo.
Manuel Quintino ia ainda a abrir a boca para desculpar-se, porém Mr. Richard o impediu.
– Não falemos mais nisto… Não vale a pena. Sente-se e faça-nos companhia à mesa.
– Perdão, Mr. Richard, mas… Mr. Richard fingiu que o não ouvia; chamou por um criado para preparar o lugar e talher para Manuel Quintino. Este sentou-se, quase sem bem reparar no que fazia.
Jenny e Cecília saíram outra vez da sala.
O jantar continuou.
Tinha porém perdido para sempre a feição jovial do princípio.
O que se passara e a presença de Carlos e de Manuel Quintino, qual deles mais constrangido e sombrio, inutilizavam todos os esforços de Mr. Richard para restabelecer no diálogo a perdida animação.
As libações repetiram-se, mas sem longos toasts.
– A seu sobrinho, Mr. Brains! – dizia por exemplo Mr.