Uma Família Inglesa - Cap. 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado Pág. 392 / 432

É orgulho de teatro… Não compreendo deveras.

Carlos respondeu:

– Eu posso estranhar que a acusação me venha de quem me devia conhecer melhor, e de quem não está dominado, como o primeiro que me acusou, por um excesso de paixão violenta, mas desculpável. Estranho e lamento que, no curto período de alguns dias, tenha já ouvido duas vezes de meu pai a acusação de… infame.

Mr. Richard, que, enquanto o filho falara, ia aumentando a velocidade dos passos, com que media a sala, parou repentinamente neste ponto e fitou Carlos com um olhar cheio de fogo.

– Estranha, porquê? Faz favor de me dizer? Não me apontará algum nome mais exacto para dar às suas acções?… Deveras que não sei… Julgo que não quererá arguir-me de demasiado severo?… Repito o que já lhe disse no outro dia. Tenho sido em excesso benevolente consigo, tenho fechado de propósito os olhos a muitos desvarios seus, desculpando-lhos com o verdor dos anos. Mas acções há que nem a crianças se desculpam… E, sempre que nos actos de um homem existe o carácter de… baixeza…

Carlos não pôde suspender um movimento instintivo de reacção, ao ouvir esta palavra.

Mr. Richard, percebendo-o, repetiu com mais força, e olhando fixamente para o filho:

– De baixeza… e de vilania!… Em tais casos, é criminosa a indulgência; e nunca é de mais toda a severidade de opinião contra esse homem. Escusa de protestar com esses movimentos e gestos. Mais severamente do que eu, o acusava há pouco a sua própria consciência, obrigando-o a calar-se e a abaixar a cabeça diante das arguições daquele homem… que… que… que tentara desonrar.

– Eu já lhe disse, senhor – acudiu Carlos, com veemência desusada para com o pai –, que tudo quanto escrevi nessa carta é verdadeiro. Seria imprudente, fui decerto; disso me acuso eu; mas diz-me a consciência que estou sendo severamente julgado e por isso…

– Era bom que a sua consciência tivesse acordado mais cedo.





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