Richard tinha amor-próprio também – não se sentia muito lisonjeado com esta sincera paixão de Carlos por Cecília, a filha do seu guarda-livros.
Um enxame de preconceitos se alvoroçava todo a esta ideia; preconceitos que a razão clara e forte de Mr. Richard se pejaria de reconhecer como legítimos, mas aos quais, sem o saber, se sujeitava.
Eram de diversas ordens.
Preconceitos de inglês, primeiro que tudo; nunca é com absoluta indiferença que o filho da Grã-Bretanha vê uma mulher de outro país roubar-lhe o coração de algum dos seus parentes. Há em toda a alma inglesa a profunda convicção mais ou menos declarada de uma superioridade de raça, que a não deixa encarar desapaixonada alianças destas.
Depois sobrevinham os preconceitos de comerciante, o qual, por mais consideração e estima que tenha por um guarda-livros, não pode de todo em todo olhá-lo como de natureza igual à sua, e não se lisonjeia demasiado com obter nora ou genro em casa dele.
Ainda o preocupavam preconceitos de capitalista; por mais filosóficas doutrinas que estes expendam sobre a vaidade das riquezas, na prática da vida não abstraem desse elemento quando combinam cálculos para resolver o problema da felicidade. Finalmente até preconceitos de pai lhe ofuscavam a luz da inteligência, pois não obstante a severidade das arguições que ouvimos, é certo que poucas mulheres no mundo lhe pareciam dignas do seu Carlos. Tudo isto o fazia pois escutar de má vontade a declaração do filho, a quem interrompeu precipitadamente.
– Está bom. Eu não preciso saber a história das transformações do seu carácter, o qual até me parece ser demasiadamente sujeito a elas. E se é essa a garantia única que tem da sinceridade dos seus sentimentos, há-de concordar que é bem fraca. Mas seja como for; depois do sucedido, parece-me escusado indicar-lhe o melhor partido que tem a abraçar.