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Capítulo 34: XXXIV - Manuel Quintino alucinado

Página 394
Richard tinha amor-próprio também – não se sentia muito lisonjeado com esta sincera paixão de Carlos por Cecília, a filha do seu guarda-livros.

Um enxame de preconceitos se alvoroçava todo a esta ideia; preconceitos que a razão clara e forte de Mr. Richard se pejaria de reconhecer como legítimos, mas aos quais, sem o saber, se sujeitava.

Eram de diversas ordens.

Preconceitos de inglês, primeiro que tudo; nunca é com absoluta indiferença que o filho da Grã-Bretanha vê uma mulher de outro país roubar-lhe o coração de algum dos seus parentes. Há em toda a alma inglesa a profunda convicção mais ou menos declarada de uma superioridade de raça, que a não deixa encarar desapaixonada alianças destas.

Depois sobrevinham os preconceitos de comerciante, o qual, por mais consideração e estima que tenha por um guarda-livros, não pode de todo em todo olhá-lo como de natureza igual à sua, e não se lisonjeia demasiado com obter nora ou genro em casa dele.

Ainda o preocupavam preconceitos de capitalista; por mais filosóficas doutrinas que estes expendam sobre a vaidade das riquezas, na prática da vida não abstraem desse elemento quando combinam cálculos para resolver o problema da felicidade. Finalmente até preconceitos de pai lhe ofuscavam a luz da inteligência, pois não obstante a severidade das arguições que ouvimos, é certo que poucas mulheres no mundo lhe pareciam dignas do seu Carlos. Tudo isto o fazia pois escutar de má vontade a declaração do filho, a quem interrompeu precipitadamente.

– Está bom. Eu não preciso saber a história das transformações do seu carácter, o qual até me parece ser demasiadamente sujeito a elas. E se é essa a garantia única que tem da sinceridade dos seus sentimentos, há-de concordar que é bem fraca. Mas seja como for; depois do sucedido, parece-me escusado indicar-lhe o melhor partido que tem a abraçar.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 394

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432