Carlos elevou para o pai o olhar interrogador.
Mr. Richard guardou, por instantes, silêncio; depois acrescentou:
– Dentro de oito dias sai um vapor para Londres…
– Mas…
Mr. Richard fingiu não ouvir a interrupção, e continuou:
– Há muito que se faz necessária uma entrevista pessoal com Mr. Woodfall Hope, porque…
– Não sei se me será possível obedecer-lhe, senhor.
Mr. Whitestone voltou-se com vivacidade para o filho e, visivelmente irritado, disse:
– Espero que não cometa a baixeza de querer demorar-se aqui, depois do que se passou. Não me faça envergonhar de o ter por filho.
Carlos desacostumara-se a arrostar por muito tempo com a severidade do pai. Sentia-se incapaz de reagir diante daquele olhar. Baixou a cabeça e calou-se.
Mr. Richard acrescentou instantes depois, em voz ainda severa, porém já menos ríspida:
– Pode retirar-se e faça por ser homem de bem. Há erros que deixam vestígios que nunca se apagam mais. Respeite as famílias, porque o contrário é desonrar a sua. Se se lembrasse de que tinha uma irmã…
Neste ponto ouviu-se rumor à porta do quarto.
– Que temos? – perguntou Mr. Richard, impaciente. Era um criado que vinha de mando de Jenny perguntar se Mr. Richard a podia receber.
Mr. Richard fez um sinal afirmativo e voltando-se para Carlos:
– Saia. Sua irmã precisa falar-me.
Carlos curvou a cabeça e saiu sem dizer palavra. Era ainda o réu que deixava o juiz, não o filho que se despedia do pai.
Carlos encontrou-se com a irmã na sala contígua. Ela estendeu-lhe a mão, dizendo:
– Vês, Charles, vês o resultado das tuas loucuras?
– Loucuras, Jenny! Pois ainda lhes chamas assim?
– Principio a ter vontade de lhe dar outro nome, principio; e é por isso que venho aqui.
– Que vens fazer?
– Advogar a causa de uma má cabeça, em atenção a um pobre coração, que não tem culpa nenhuma em andar unido àquela estouvada.