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Capítulo 35: XXXVI - A defesa da irmã

Página 400
Richard bateu, algum tanto impacientemente, uma pancada com a mão na secretária, junto da qual tinha parado.

– Julguei que Jenny não conhecia o mundo por o ter visto nas páginas dos romances.

– Não, senhor; não o conheço daí; mas também o não conheço por experiência pessoal. Das lições de meu pai obtive o pouco que dele sei; por isso avalio o bom e o mau das nossas acções na vida, à luz do dever e da consciência. Não foi o que me ensinou?

Mr. Richard aceitou com um sorriso a correcção filial.

– Pois foi à luz do dever e da consciência que eu procedi.

– Julguei que, depois do acontecido, o dever lhe aconselharia outra coisa.

– Algum absurdo? Loucuras?… Fantasias? És mulher afinal, Jenny!

Jenny aproximou-se do pai, que viera sentar-se em uma cadeira junto do fogão, apoiou-se-lhe ao ombro e, a meia voz, disse-lhe como a brincar:

– Desejava agora, por um momento só, deixar de ser sua filha, senhor.

– Para quê?

– Para me atrever a fazer-lhe uma pergunta.

– Autorizo-te a fazê-la, Jenny – respondeu o inglês, completamente desarmado contra a diplomacia da filha.

– Autoriza? Eu sei?!

– Exijo até que a faças.

– Sou mulher afinal! disse o pai… Pode ser… E como mulher tenho talvez o meu fraco pelo sentimento – preconceitos do coração… Não é isto?… Mas… era a pergunta que eu, se não fosse sua filha, lhe quereria fazer: mas esse seu espírito, recto, esclarecido e forte… julgará sem preconceitos desta vez?

– Que preconceitos queres que sejam os meus? – perguntou Mr. Richard, desviando os olhos.

– Quem sabe lá? Cecília é filha de Manuel Quintino, um homem honrado, mas… subalterno; fiel, mas… pobre; um carácter generoso, mas… educado na escola da obediência; capaz de se sacrificar por nós, mas… vivendo dos ordenados da nossa casa.

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pág. 400 (Capítulo 35)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 400

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432