isso? O mundo não veria neste acto, que pode ser… que creio mesmo que seja muito justo, mas que é preciso confessar também que não é natural, não veria nesse acto a reparação de ofensa maior?
Jenny sentiu-se alentada ao ver a nova face que o pai dava à discussão.
– E a partida repentina e inesperada de Charles, depois dos factos que sucederam, não dará lugar a vozes menos favoráveis ainda para ela, para ele e… para nós todos?
Mr. Whitestone não respondeu.
– Eu conheço pouco o mundo, é verdade – prosseguiu a filha –; mas parece-me que, em todo o caso, ele falará; o que se tem a fazer é dar às nossas acções a feição mais natural, para que menos curiosidade lhe excitem. Conduzamo-las de modo a deixar-lhe entrever os motivos que nos convier que ele suponha; mas sem mostrarmos o propósito de revelar-lhos, que não desconfie da intenção e procure então os verdadeiros.
Mr. Richard olhava para a filha com um sorriso, já muito desanuviado.
– Bravo! Que maquiavelismo! Não te sabia tão diplomata. Vamos à aplicação ao caso presente.
Jenny sorria também, mas de íntima satisfação, porque se pressentia vitoriosa.
– Trata-se de diminuir, pouco a pouco, a estranheza do acto que o faz hesitar; preparar as opiniões para aceitá-lo como natural.
– E como? Que queres que eu faça?
– O que lhe ditar o coração. Não é a mim que compete aconselhá-lo.
Mr. Whitestone baixou a cabeça, com ar de reflexão.
Jenny principiou a dizer, como se falasse para si própria, mas de maneira que fosse escutada por o pai.
– O mundo é assim. Dá-se-lhe a verdadeira explicação dos factos, raras vezes a acredita. Forja-se outra, às vezes menos natural e plausível, quase sempre a prefere. Principalmente se a verdadeira é generosa e nobre, e a falsa interesseira e mesquinha.