Como sempre acontece, à medida que a notícia se transmitia, ampliavam-se os serviços de Manuel Quintino. A opinião pública, que até então nem atentara nele, supondo-o um ente inteiramente nulo, sofreu um destes reviramentos súbitos, de que por certo os leitores hão-de conhecer exemplos.
Em um grupo de negociantes, estacionados no passeio da Rua dos Ingleses, discutia-se toda a manhã Manuel Quintino. Um insistia em dar a entender aos colegas que havia muito adivinhara o homem; outro proclamava-o já o primeiro guarda-livros do Porto; outro fazia valer o seu profundo conhecimento da língua inglesa; outro a sua perfeição caligráfica; outro a sua actividade, o seu desembaraço em operações e escrita comerciais, e a sua longa prática, etc., etc.
– Disse-me há pouco Mr. Whitestone – acrescentou a isto tudo um barão – que o homem tem já o seu pecúlio bem bonito.
Mr. Whitestone não se esquecera desta parte do plano de Jenny.
– Que dúvida! – disseram alguns.
– Sabem o que ali está? – fez notar um brasileiro. – É um bom director de banco.
– E olhe que é verdade.
Esta opinião prova a que ponto subira, em poucas horas, o crédito de Manuel Quintino. Julgá-lo apto para director de um banco era o mais alto grau a que podia elevá-lo o conceito público. Tal foi o efeito do artifício de Jenny.
Mr. Richard via com prazer o bom êxito do plano. O amor-próprio de artista estava a sufocar o resto de preconceitos que ainda sobreviviam nele. Por prudência chamou de parte Mr. Brains, que viu na Praça, e deu-lhe a entender que convinha não falar na cena do jantar da véspera.
– Porque, Mr. Brains – disse ele –, bem vê que aquele pateta do Charles portou-se de maneira que será pouco airoso para um inglês se se vier a saber…
Feita esta reflexão, o orgulho nacional terminava a obra, encadeando a língua de Mr.