Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 37: XXXVIII - Justificação de Carlos

Página 415

Nesta carta Paulo confessava-se criminoso e dizia-se perdido para sempre. O muito amor que tinha à mãe tornara-lhe insuportável a ideia de que a menor privação fizesse sentir à pobre senhora as amarguras de uma existência, para cujo amparo só ele ficara, depois da morte de seu pai. – Este sentimento piedoso perdeu-o. Não bastando para tratá-la, como desejava, os ordenados do escritório, contraiu dívidas primeiro; para as saldar, jogou nas lotarias; acresceu o mal; e mais tarde, em um momento de desespero, durante o mês da doença de Manuel Quintino, subtraiu uma avultada soma da caixa, fechando os olhos às consequências. – A confiança de Carlos era fácil de iludir; mas na véspera do regresso de Manuel Quintino ao escritório, Paulo previu que o desconfiado guarda-livros cedo descobriria tudo. Após o susto veio o remorso, e após o remorso, a resolução desesperada. Para evitar o suicídio, resolveu fugir da cidade. Nesta carta despedia-se, portanto, da mãe, e recomendava-lhe que pedisse protecção a Mr. Richard e sobretudo a Carlos, em cujo carácter generoso o pobre rapaz confiava cegamente.

– Ó meu bom Charles! – disse Jenny, ao acabar de ler – eu bem sentia que havia de ser digno de ti o motivo que te levou àquilo. Compreendo tudo, meu irmão…

– Seu irmão é uma alma sublime, a quem Deus pagará em venturas as lágrimas de gratidão que ele me tem feito derramar.

Jenny apertou comovida as mãos da senhora, que chorava.

Contou a mãe de Paulo os pormenores das cenas que se passaram naquela manhã: como, ao acordar, dera pela ausência do filho e encontrou esta carta a explicá-la; o seu desespero, a sua irresolução; a ignorância em que ficou sobre o destino de Paulo. – Disse depois como o bilhete de um amigo desconhecido, indicando Paulo a hora a que devia estar a bordo do navio, lhe dera indícios.

<< Página Anterior

pág. 415 (Capítulo 37)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 415

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432