Depois contou toda a entrevista com Carlos, a quem ela recorrera desesperada. A pronta disposição deste para valer-lhe; como, obtida com a venda do relógio a soma do alcance de Paulo, Carlos a acompanhou à Foz, até bordo do navio, e lhe restituíra o filho, que ela já supunha perdido.
– Horas depois – concluiu ela – recebia eu em casa este bilhete de Paulo.
Jenny leu-o. Dizia apenas:
«Tudo está salvo, minha boa mãe. A generosidade do Sr. Carlos livrou-me da desonra. Resta-me o dever da regeneração, que sinto agora mais vivo do que nunca.»
– E agora diga, minha senhora, devo acusar meu próprio filho? Não era por mim que ele se perdia? E devo pagar-lhe assim? É de justiça, bem sei; mas… perdoe-me se me falta a coragem. Não desculpará esta fraqueza a uma mãe?
Jenny abraçou-a com ternura.
– Tranquilize-se, minha senhora. Não é a esse coração que eu pedirei tal sacrifício. Deus me inspirará algum meio de valer a todos. Sinto-me agora com força para tudo.
– Pobre Paulo! O muito amor que me tem foi que o levou àquilo. Ainda hoje sente remorsos tão vivos!… Ele bem faz por se alegrar, mas… conheço que lhe pesa esta pena dentro da alma. «Se eu fosse só – disse-me ele há dias – se a minha desgraça não pudesse cair sobre a cabeça de mais ninguém, eu já teria confessado tudo! Envergonho-me de mim mesmo, quando penso no meu silêncio.» E eu, senhora, que abençoaria a hora em que espontaneamente ele o confessasse, não tenho coragem para dizer-lhe: Fala! Parece-me quase uma ingratidão… Era como se eu própria, sabendo que ele se desonrara por mim, o apontasse desonrado aos olhos dos outros.
Jenny consolou a pobre mãe e prometeu-lhe não revelar a alguém o que dela acabara de saber.
Saiu dali com a alegria no coração a generosa irmã de Carlos.