De caminho ia pensando na maneira de proceder para patentear ao pai a inocência de Carlos, sem trair a confiança que a mãe de Paulo depositara nela.
De súbito, acudiu-lhe uma ideia que a fez sorrir. E, em vez de voltar para casa, como tencionava, deu ordem para que a conduzissem ao escritório da Rua dos Ingleses.
Mr. Richard, que passeava na Praça, vendo chegar a filha, aproximou-se dela sorrindo.
– Que madrugada é esta, Jenny?
– Admira-se? Pois há muito que ando por fora.
– Então é dia de feira?
– Não, senhor; mas tenho hoje de lhe dar contas de um trabalho de que me encarreguei.
– Qual?
– Um problema que prometi resolver em oito dias.
– Ah! E então?…
– E então, nem tanto tempo me foi preciso; já possuo a solução; agora só me resta uma dificuldade.
– Qual é?
– Achar a maneira apropriada de lha fazer saber.
– Isso não custa a imaginar.
– Não é muito fácil, porque prometi que não serei eu que a diga.
– E então quem há-de ser?
– É o que venho procurar.
– Aqui?
– Lá acima, ao escritório, onde me deixará subir e demorar algum tempo.
– Como quiseres. E pode saber-se se a solução é satisfatória?
– A melhor possível.
– Duvido.
– Verá.
– Verei.
– Duas palavras mais: os seus caixeiros sabem todos inglês?
– Manuel Quintino…
– Esse sei que sim; os outros?
– Paulo não o fala, mas entende-o; o outro nem o entende, nem o fala.
– Bem. Outra coisa. Há-de fazer-me uma promessa.
– Diz.
– Quando souber a solução do problema, se reconhecer que foi severo de mais para com seu filho, será, em compensação, indulgente para com o verdadeiro culpado.
– Pois há culpados?
– Promete?
– Mas…
– Promete?
– Prometerei, porém…
– Até logo. Ou eu me engano muito, ou, daqui a meia hora, pode vir saber o resultado.