Uma Família Inglesa - Cap. 37: XXXVIII - Justificação de Carlos Pág. 418 / 432

– De ti?

– De mim não. Até logo. E desapareceu, subindo com ligeireza as escadas carunchentas do escritório.

Ao entrar ali dentro, Jenny revestiu-se de um daqueles ares graves e pensativos que tão bem lhe iam à fisionomia simpática.

Estavam na sala Manuel Quintino, Paulo e o outro caixeiro, e todos se levantaram, ao verem entrar a jovem inglesa.

– Por favor, deixem-se estar como estão – disse ela, sentando-se ao pé de Manuel Quintino. – Quero descansar algum tempo aqui; mas não interrompam os trabalhos.

– Estava bem longe de a esperar hoje por estes sítios, miss Jenny – disse Manuel Quintino, continuando a trabalhar.

– Precisei de falar com o pai… Mas que tem, Manuel Quintino? Parece-me triste; Cecília como está?

– Graças a Deus, menina, Cecília… não está mal.

– Então não esteja triste. Para tristezas basto eu.

– Então, miss Jenny, está triste?

– E não pouco, Manuel Quintino.

Manuel Quintino sorriu, como quem duvidava.

– De que se ri? Julga-me incapaz de sentir a tristeza?

– Não, mas não vejo o que possa causar-lha.

– Então ouça e diga se o motivo não é para estes e piores efeitos.

Jenny, passando de repente a falar inglês, como se desejasse ser somente compreendida por Manuel Quintino, a quem se dirigia em tom confidencial, prosseguiu:

– Charles tem excelente coração, como sabe; mas uma cabeça!… Sem o querer, é o motivo de continuados desgostos em casa. Aí está que se dá agora com ele um facto, bem singular, que é a causa da minha tristeza.

E Jenny principiou a contar a Manuel Quintino a história do relógio, o desgosto de Mr. Richard, a insistência de Carlos em ocultar as razões que o moveram àquela venda, razões que ele se limitava a afirmar não serem vis.

– Mas que quer? – prosseguia Jenny – quem o acreditará? Eu e mais ninguém.





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