– De ti?
– De mim não. Até logo. E desapareceu, subindo com ligeireza as escadas carunchentas do escritório.
Ao entrar ali dentro, Jenny revestiu-se de um daqueles ares graves e pensativos que tão bem lhe iam à fisionomia simpática.
Estavam na sala Manuel Quintino, Paulo e o outro caixeiro, e todos se levantaram, ao verem entrar a jovem inglesa.
– Por favor, deixem-se estar como estão – disse ela, sentando-se ao pé de Manuel Quintino. – Quero descansar algum tempo aqui; mas não interrompam os trabalhos.
– Estava bem longe de a esperar hoje por estes sítios, miss Jenny – disse Manuel Quintino, continuando a trabalhar.
– Precisei de falar com o pai… Mas que tem, Manuel Quintino? Parece-me triste; Cecília como está?
– Graças a Deus, menina, Cecília… não está mal.
– Então não esteja triste. Para tristezas basto eu.
– Então, miss Jenny, está triste?
– E não pouco, Manuel Quintino.
Manuel Quintino sorriu, como quem duvidava.
– De que se ri? Julga-me incapaz de sentir a tristeza?
– Não, mas não vejo o que possa causar-lha.
– Então ouça e diga se o motivo não é para estes e piores efeitos.
Jenny, passando de repente a falar inglês, como se desejasse ser somente compreendida por Manuel Quintino, a quem se dirigia em tom confidencial, prosseguiu:
– Charles tem excelente coração, como sabe; mas uma cabeça!… Sem o querer, é o motivo de continuados desgostos em casa. Aí está que se dá agora com ele um facto, bem singular, que é a causa da minha tristeza.
E Jenny principiou a contar a Manuel Quintino a história do relógio, o desgosto de Mr. Richard, a insistência de Carlos em ocultar as razões que o moveram àquela venda, razões que ele se limitava a afirmar não serem vis.
– Mas que quer? – prosseguia Jenny – quem o acreditará? Eu e mais ninguém.