Deixava-se possuir de legítimo orgulho que, não obstante, o não fazia soberbo.
Paulo foi no mesmo dia nomeado guarda-livros, com aumento de ordenado.
O pobre rapaz recebeu com lágrimas a nomeação. Estas lágrimas estavam vingando Mr. Richard.
As manifestações públicas de intimidade entre as duas famílias repetiram-se, graças aos sacrifícios de Jenny.
Uma noite, Cecília, obrigada por ela, apareceu no teatro.
Os amigos de Carlos reconheceram-na, e os boatos do próximo casamento do filho de Mr. Richard com a filha do seu novo sócio principiaram, desde então, a transpirar na cidade com certa insistência.
A fantasia de alguns noveleiros explicava o facto por motivos ocultos, dando a entender que os serviços que devia a casa Whitestone a Manuel Quintino eram maiores do que os reconhecidos por ela e que as economias do velho guarda-livros tinham valido para atalhar os males causados pelos arrojos do patrão. Desde que se achara assim meio de fazer intervir na explicação o elemento interesse, os ânimos aceitavam-na de mais boa mente.
Tinha Mr. Richard razão.
Partira porém um vapor para Londres e, após o primeiro, outro e outro, sem que o velho comerciante inglês fizesse lembrar ao filho o cumprimento da sua sentença.
Uma manhã, estava Mr. Richard no gabinete, entusiasmado na contemplação da chamada «Águia dourada», ou tecnicamente: Aquila Chrysaetus, raro visitador dos subúrbios de Londres, que ele recebera nas vésperas de um seu amigo de Boxhill, onde fora caçada e morta, quando deste quase êxtase de coleccionador o arrancou o rumor da porta do gabinete que se abria; Mr. Richard voltou-se e viu o rosto da filha, que espreitava para dentro.
– Entra, Jenny, entra – disse ele, com a afabilidade com que sempre lhe falava.
Jenny entrou.