– Que te traz por aqui, tão de madrugada?
– Encarreguei-me de uma apresentação, que peço licença para fazer-lhe.
– De uma apresentação?! De quem?
– De uma pessoa – respondeu Jenny maliciosamente – que lhe quer pedir as suas ordens para Londres. Há muitos dias já que tinha de partir para lá.
Mr. Whitestone olhou, sorrindo, para a filha, cujas palavras, com o seu sabor epigramático, o deliciavam.
– Que entre, que entre o teu recomendado.
Jenny abriu a porta e introduziu Carlos na sala.
Apesar da timidez que sentia sempre na presença do pai, Carlos recebia agora coragem da consciência de ter ganho de antemão a causa que vinha por formalidade advogar ali.
– Meu pai – disse ele, adiantando-se para Mr. Whitestone –, não há muitos dias, que pela sua boca ouvi qualificada como infâmia uma acção minha; venho pedir-lhe agora que me deixe usar do único meio que tenho, para evitar que a arguição seja, até certo ponto, merecida.
– Qual é? – perguntou concisamente Mr. Richard.
– Procurar Manuel Quintino e pedir-lhe para oferecer o meu nome, honrado por meu pai com uma vida inteira de probidade, a essa menina, que as minhas imprudências, e nunca as minhas intenções, iam sacrificando. Salvou-a uma vez a generosidade de minha irmã; outra, a sua, senhor. Deixe-me, pois, seguir o exemplo tão nobre que me apontaram e com ele o que, ao mesmo tempo, me aconselha o coração.
– E já pensaste bem, Carlos – disse Mr. Richard, que tinha já perdido toda a sua rispidez –; já pensaste bem no que vais fazer? Não temes que venhas ainda a arrepender-te desse passo pouco reflectido? Não receias tornar-te o instrumento da infelicidade dessa menina? Estás preparado para as obrigações que, como chefe de família, vais chamar sobre ti?
– Eu sei que o passado poucas garantias me pode conceder; mas tenho fé em que o futuro me justificará…
– Fé? – disse Mr.