Cecília, ao ouvir a criada, corada de maneira particular e sob não sei que pretexto, recolheu-se ao quarto.
É que se lembrou, naquele momento, de um bilhete, que na véspera recebera de Jenny, com estas sós palavras:
– «Desejo-te e agouro-te muito risonhas madrugadas.»
Assinada – «Tua irmã, Jenny».
Logo que Cecília saiu, Antónia chegou-se ao pé de Manuel Quintino e disse-lhe em ar de mistério:
– É ele outra vez!
– Ele quem?
– O filho do inglês.
– Carlos?!
Foi com alvoroço que Manuel Quintino desceu as escadas e chegou à presença do irmão de Jenny.
Carlos não estava menos agitado. Nos seus gestos e palavras havia uma gravidade que Manuel Quintino lhe estranhou.
Não se sentiam à vontade um na presença do outro, o que não é para admirar depois das cenas ocorridas entre ambos.
Carlos rompeu primeiro o silêncio.
– Manuel Quintino, eu venho aqui para um fim muito sério e de máxima importância para nós ambos.
Depois de curto intervalo de pausa, acrescentou:
– Venho aqui pedir-lhe a mão de sua filha.
Manuel Quintino deu um salto na cadeira em que estava sentado.
– Pedir a…?
– A mão de Cecília – repetiu Carlos, com firmeza.
Uma nuvem toldou por momentos o espírito de Manuel Quintino. As suspeitas, mal acalmadas, agitaram-se de novo àquelas palavras.
Carlos, notando-o, acrescentou:
– Não lhe oculto agora que há muito sinto por sua filha uma afeição, que em vão procurei combater. Curvei a cabeça ante as suas acusações, Manuel Quintino, não porque me exprobrasse a consciência alguma tenção infame, mas porque pelas minhas imprudências podia de facto ter arriscado a boa fama da pessoa que eu queria defender por todo o preço, à custa de todos os sacrifícios, e tinha remorsos disso. Não é reparação que venho aqui oferecer; Cecília não carece dela; venho pedir-lhe a minha felicidade.