Uma Família Inglesa - Cap. 4: IV - Um anjo familiar Pág. 46 / 432

Naquele estado, coitada!… Sabe lá a falta que lhe estará fazendo?

– Mas, se…

– Vá; Carlos não lhe importa. Eu lhe direi. Ande, vá.

– Então muito agradecido, minha senhora – disse o rapaz, sensibilizado com a bondade da sua jovem ama.

Jenny continuou passeando.

Ao passar junto das escadas do mirante, parou, afirmando-se em alguma coisa que via nelas. Subiu dois ou três degraus e curvou-se para observar melhor; era uma pena de ave que o vento transportara do pátio para ali. Jenny não pôde reprimir um pequeno movimento de desagrado.

O escrupuloso amor do asseio, radicado no carácter e nos hábitos ingleses, não lhe permitia ver com indiferença aquilo.

– Varreram-se hoje as escadas, Pedro? – perguntou ela a um criado, com longo avental branco, que naquele momento passava no corredor.

– Varreram, sim, minha senhora – respondeu este.

– Repare – acrescentou Jenny. – A falar verdade são bem pouco cuidadosos. Veja esse corrimão cheio de pó.

– É que se tornou a sujar. O vento…

– Seria; mas não tira que se limpe outra vez.

– Decerto; eu vou já.

– E olhe – continuou Jenny, indicando as vidraças que davam para o jardim – passe também com um pano humedecido por esses vidros tão baços e dê lustro aos metais dos fechos.

– Sim, minha senhora; e digo também ao hortelão que ensaibre o jardim; depois da chuva que tem caído bem precisa disso – lembrou o criado, como todos desta classe, mais zeloso em superintender nas tarefas dos outros do que em cumprir as suas.

Jenny fez um gesto de assentimento e passou para diante. Entrou na sala de jantar.

Lançou um olhar para a mesa onde, sobre toalha de alvíssima bretanha, brilhavam os mais puros cristais e a mais preciosa louça inglesa.

Esteve algum tempo a examinar com atenção as particularidades do serviço, acusando por vezes no gesto algum defeito que percebia.





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