Naquele estado, coitada!… Sabe lá a falta que lhe estará fazendo?
– Mas, se…
– Vá; Carlos não lhe importa. Eu lhe direi. Ande, vá.
– Então muito agradecido, minha senhora – disse o rapaz, sensibilizado com a bondade da sua jovem ama.
Jenny continuou passeando.
Ao passar junto das escadas do mirante, parou, afirmando-se em alguma coisa que via nelas. Subiu dois ou três degraus e curvou-se para observar melhor; era uma pena de ave que o vento transportara do pátio para ali. Jenny não pôde reprimir um pequeno movimento de desagrado.
O escrupuloso amor do asseio, radicado no carácter e nos hábitos ingleses, não lhe permitia ver com indiferença aquilo.
– Varreram-se hoje as escadas, Pedro? – perguntou ela a um criado, com longo avental branco, que naquele momento passava no corredor.
– Varreram, sim, minha senhora – respondeu este.
– Repare – acrescentou Jenny. – A falar verdade são bem pouco cuidadosos. Veja esse corrimão cheio de pó.
– É que se tornou a sujar. O vento…
– Seria; mas não tira que se limpe outra vez.
– Decerto; eu vou já.
– E olhe – continuou Jenny, indicando as vidraças que davam para o jardim – passe também com um pano humedecido por esses vidros tão baços e dê lustro aos metais dos fechos.
– Sim, minha senhora; e digo também ao hortelão que ensaibre o jardim; depois da chuva que tem caído bem precisa disso – lembrou o criado, como todos desta classe, mais zeloso em superintender nas tarefas dos outros do que em cumprir as suas.
Jenny fez um gesto de assentimento e passou para diante. Entrou na sala de jantar.
Lançou um olhar para a mesa onde, sobre toalha de alvíssima bretanha, brilhavam os mais puros cristais e a mais preciosa louça inglesa.
Esteve algum tempo a examinar com atenção as particularidades do serviço, acusando por vezes no gesto algum defeito que percebia.