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Foi pois a música correspondente a esta canção que Mr. Richard interrompeu quando, ao entrar na sala, viu que com um único talher estava preparada a mesa.
– Carlos está ainda na cama? – disse, voltando-se para Jenny e num tom em que se revelavam ligeiros indícios de mau humor.
Cumpre-me avisar aqui os leitores de que, para dupla comodidade, minha e sua, farei falar português a Mr. Richard, e até segundo as regras de uma gramática cuja autoridade ele nunca reconheceu.
Jenny sentiu a necessidade de advogar a causa do irmão junto de Mr. Richard, que, já bastante indisposto com a ausência de Carlos no dia do seu aniversário, encarava agora com maus olhos tais excessos de indolência filial.
Profundo admirador das belezas deste mundo sublunar, Mr. Richard olhava o sono como um invejoso que nos furta algumas horas de prazer nesta vida, e ao qual, obrigado a fazer ligeiras concessões, tratava sempre como inimigo.
À interrogação paterna, Jenny respondeu:
– Ainda.
– Ho! – acudiu Mr. Richard, com a sua monossilábica e gutural interjeição de desgosto, acompanhando-a dos acessórios do costume.
Jenny acrescentou:
– Charles teve de se recolher ontem mais tarde…
– Escolheu bem o dia.
– Não se lembrava…
– Esquisito!
– Creia que se não esqueceria assim, se se tratasse do dia 3 de Julho, do aniversário do pai.
Mr. Richard sentou-se e pôs-se a ler o Times.
Jenny sentou-se defronte dele, mas arredada da mesa.
– E, como se deitou tarde – prosseguiu ela, passado tempo – e eu receei que a falta de descanso lhe pudesse fazer mal, ordenei que o não chamassem.
– Então veio muito tarde?
– Julgo que… às duas horas… – balbuciou Jenny.
O criado, que começara a servir Mr. Richard, pensou fazer um obséquio corrigindo:
– Perdão, miss Jenny, passava já das quatro.