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Capítulo 5: V - Uma manhã de Mr. Richard

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Foi pois a música correspondente a esta canção que Mr. Richard interrompeu quando, ao entrar na sala, viu que com um único talher estava preparada a mesa.

– Carlos está ainda na cama? – disse, voltando-se para Jenny e num tom em que se revelavam ligeiros indícios de mau humor.

Cumpre-me avisar aqui os leitores de que, para dupla comodidade, minha e sua, farei falar português a Mr. Richard, e até segundo as regras de uma gramática cuja autoridade ele nunca reconheceu.

Jenny sentiu a necessidade de advogar a causa do irmão junto de Mr. Richard, que, já bastante indisposto com a ausência de Carlos no dia do seu aniversário, encarava agora com maus olhos tais excessos de indolência filial.

Profundo admirador das belezas deste mundo sublunar, Mr. Richard olhava o sono como um invejoso que nos furta algumas horas de prazer nesta vida, e ao qual, obrigado a fazer ligeiras concessões, tratava sempre como inimigo.

À interrogação paterna, Jenny respondeu:

– Ainda.

– Ho! – acudiu Mr. Richard, com a sua monossilábica e gutural interjeição de desgosto, acompanhando-a dos acessórios do costume.

Jenny acrescentou:

– Charles teve de se recolher ontem mais tarde…

– Escolheu bem o dia.

– Não se lembrava…

– Esquisito!

– Creia que se não esqueceria assim, se se tratasse do dia 3 de Julho, do aniversário do pai.

Mr. Richard sentou-se e pôs-se a ler o Times.

Jenny sentou-se defronte dele, mas arredada da mesa.

– E, como se deitou tarde – prosseguiu ela, passado tempo – e eu receei que a falta de descanso lhe pudesse fazer mal, ordenei que o não chamassem.

– Então veio muito tarde?

– Julgo que… às duas horas… – balbuciou Jenny.

O criado, que começara a servir Mr. Richard, pensou fazer um obséquio corrigindo:

– Perdão, miss Jenny, passava já das quatro.

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pág. 57 (Capítulo 5)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 57

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432