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Capítulo 6: VI - Ao despertar de Carlos

Página 63
As esporas no lugar do relógio; este pousado na beira do mármore do fogão; sobre o leito, um dominó de cetim; pendente à cabeceira, o jornal da véspera e um longo cachimbo com tubo de guta-percha; aos pés, o polvorinho de caça, o robe de chambre de damasco e o teliz da horsa favorita; no velador, um tinteiro de prata, transformado em cinzeiro de charutos; um chapéu pendurado na chave da porta; o candeeiro no chão, alguns livros e mapas geográficos quase debaixo da cama. Um abat-jour de cartão envernizado com figuras extravagantes, representando chins em posições todas chinesamente ridículas, servia de barrete ao busto de Shakespeare, cujo pescoço estava, além disso, diplomaticamente enfeitado com uma gravata de baile; defronte, Byron, coberto com chapéu de feltro de abas largas, o qual lhe pendia galhardamente sobre a orelha esquerda, parecia fitar com petulância o seu ilustre conterrâneo; no outro ângulo, era aquela figura séria e bondosa de sir Walter Scott, com não sei que ares de acanhado debaixo do barrete turco, que a guerra da Crimeia pusera então à moda; e, finalmente, um quarto busto ocultava, sob máscara de cetim preto, a expressão de candura e sofredora tristeza do cantor dos combates dos anjos e demónios, o sublime Milton.

Dir-se-ia que estes grandes personagens da literatura inglesa, obedecendo à voz do Carnaval, haviam surgido da sepultura, para virem celebrar também entre si, com as suas cabeças pálidas, a mais estranha mascarada.

No meio de toda esta confusão, um enorme terra-nova, de ventas leoninas e corpulência de touro, languidamente recostado nas moles almofadas do sofá luxuoso, pousava as patas musculosas e peludas sobre um magnífico álbum de gravuras, com a mais absoluta irreverência pela preciosidade, que assim lhe servia de cabeceira e de estrado.

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pág. 63 (Capítulo 6)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432