As esporas no lugar do relógio; este pousado na beira do mármore do fogão; sobre o leito, um dominó de cetim; pendente à cabeceira, o jornal da véspera e um longo cachimbo com tubo de guta-percha; aos pés, o polvorinho de caça, o robe de chambre de damasco e o teliz da horsa favorita; no velador, um tinteiro de prata, transformado em cinzeiro de charutos; um chapéu pendurado na chave da porta; o candeeiro no chão, alguns livros e mapas geográficos quase debaixo da cama. Um abat-jour de cartão envernizado com figuras extravagantes, representando chins em posições todas chinesamente ridículas, servia de barrete ao busto de Shakespeare, cujo pescoço estava, além disso, diplomaticamente enfeitado com uma gravata de baile; defronte, Byron, coberto com chapéu de feltro de abas largas, o qual lhe pendia galhardamente sobre a orelha esquerda, parecia fitar com petulância o seu ilustre conterrâneo; no outro ângulo, era aquela figura séria e bondosa de sir Walter Scott, com não sei que ares de acanhado debaixo do barrete turco, que a guerra da Crimeia pusera então à moda; e, finalmente, um quarto busto ocultava, sob máscara de cetim preto, a expressão de candura e sofredora tristeza do cantor dos combates dos anjos e demónios, o sublime Milton.
Dir-se-ia que estes grandes personagens da literatura inglesa, obedecendo à voz do Carnaval, haviam surgido da sepultura, para virem celebrar também entre si, com as suas cabeças pálidas, a mais estranha mascarada.
No meio de toda esta confusão, um enorme terra-nova, de ventas leoninas e corpulência de touro, languidamente recostado nas moles almofadas do sofá luxuoso, pousava as patas musculosas e peludas sobre um magnífico álbum de gravuras, com a mais absoluta irreverência pela preciosidade, que assim lhe servia de cabeceira e de estrado.