Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: VI - Ao despertar de Carlos

Página 64

Imagine-se o resto.

André, o metódico André, sorria e abanava a cabeça no meio de tanta desordem. Demorou-se alguns instantes a examinar todo aquele desarranjo, que bem simulava os vestígios da recente luta; depois, caminhou para o leito, afastou vagarosamente, de má vontade ainda, as cortinas brancas que o resguardavam e, curvando a cabeça, fitou os olhos na fronte espaçosa e lisa de Carlos, sem que se resolvesse a acordá-lo de dormir tão tranquilo.

Carlos tinha a fisionomia simpática e expressiva. O melhor tipo saxónico encontrava-se ali. Os cabelos louros, curtos e naturalmente anelados, deixavam-lhe livre a fronte ampla, de bossas proeminentes, e cujos ângulos se prolongavam por sobre as têmporas; as cores eram do alvo delicado, próprio dos tipos setentrionais; o nariz de perfil, em que não entrava o elemento da mais desvanecida curva; os lábios, algum tanto grossos e levemente encrespados num sorriso, entre irónico e afectuoso, pronto a caracterizar-se com facilidade igual num e noutro destes sentidos; as pálpebras longas, salientes, e nas quais, em curvas azuladas, transparecia uma rede de pequenas veias, e em torno às órbitas o círculo de cor desmaiadamente roxa, vestígio de longas noites de agitadas vigílias; tais eram os traços principais daquela fisionomia aberta e atraente que, em alguns deles, oferecia o que quer que era de Byron. Os olhos, naquele momento velados, possuíam fogo correspondente à vivacidade do espírito que os animava; as feições, paralisadas agora pelo sono, gozavam em vigília de mobilidade extrema e eloquente, outro ponto de analogia com as do poeta inglês, segundo a crença dos seus biógrafos.

André acabou enfim por o chamar, mas com voz que parecia de quem desejava não ser escutado.

– Sr. Carlos – disse ele.

<< Página Anterior

pág. 64 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 64

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432