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Capítulo 6: VI - Ao despertar de Carlos

Página 65

Apesar de pronunciada em tom baixo e quase a medo, bastou esta palavra para o despertar.

Abriu imediatamente os olhos, fitou-os no criado e, estendendo os braços naquele quase involuntário movimento com que todas as manhãs despedaçamos as últimas cadeias com que nos algema o sono, deixou-lhos cair em volta do pescoço, como para apoiar-se, dizendo ainda com voz mal distinta:

– Bons dias, André. Que horas são?

– Meio-dia.

Foi a resposta que obteve, acompanhada de significativo sorriso.

– Save us! – exclamou Carlos, imitando a despenseira inglesa, de quem era esta a frase habitual, e ao mesmo tempo voltou os olhos para o relógio fronteiro, o qual, como em resposta a esta mímica interrogatória, bateu doze lentas e sonoras pancadas.

– Pois não me parecia – continuou Carlos, ao acabar de contá-las. – Ia até estranhar-te a madrugada, sabes tu? E… e… o pai?

– Saiu já.

– E… e que disse?

André encolheu os ombros, respondendo:

– Nada.

Era a maneira de exprimir que alguma coisa dissera.

Carlos compreendeu isto mesmo, mas não perguntou mais nada.

– Toca a pôr a pé, que são horas! – dizia André, ocupando-se a levantar alguns objectos que via pelo chão.

– Desumano, cruel, que me recordas? – respondeu-lhe Carlos em tom de recitação trágica.

– Vamos, vamos, preguiçoso.

Carlos abriu ainda outra vez a boca, em gesto quase sentimental de despedida ao sono que se afastava; afagou com a mão o colossal terra-nova, que veio pousar-lhe a cabeça nos joelhos, e abriu ao acaso o livro que encontrou à mão, um romance de Dickens, do qual leu algumas linhas distraído.

– Então? – insistiu André, vendo-o pouco disposto a levantar-se. – Fica aí?

– Vai-me buscar o almoço, homem. Traz-me só café. Parece-me que ainda agora terminei aquele turbulento jantar de ontem.

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pág. 65 (Capítulo 6)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 65

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432