– Então quer almoçar aqui?
– E julgo que é uma resolução muito louvável.
– Mas…
– Mas o quê?… Que objecções lhe pões? Fala.
– É que miss Jenny espera-o na biblioteca.
Carlos de um salto sentou-se na cama.
– Ó pateta! E inda agora me vens com isso? Depressa – chega-me daí esse robe de chambre. – Isso não… não vês que é um dominó?!… Anda… avia-te… Aquele lenço… O outro… Bem… Vai… Diz a Jenny que num momento estou com ela.
E depois de proceder com a maior celeridade àquela ligeira toilette de manhã, Carlos entrou na biblioteca, onde Jenny o esperava.
Era nesta biblioteca que muitas vezes os dois irmãos se entregavam a leituras comuns, restos de hábitos adquiridos na infância, quando pelos mesmos livros estudavam, formando um gracioso grupo de cabeças louras, objecto das contemplações apaixonadas e das bênçãos cordiais de Mr. Richard Whitestone.
– Bom dia, Charles – disse Jenny, estendendo-lhe a mão, que ele apertou afectuosamente.
– Fiz-te esperar muito, filha? Perdoa-me; mas aquele pateta não soube dizer-me logo que tu…
– Desculpa mandar-te acordar, mas…
– Fizeste bem; senão, dormiria até à noite.
– Vieste ontem muito tarde, Charles – disse Jenny, abaixando-se disfarçadamente para acariciar o terra-nova, que se lhe deitara aos pés.
– Pois ouviste-me?
– Ouvi.
– Então acordei-te, Jenny? Não foi por falta de cautela, porém… sempre sou um desastrado!
– Não, não acordaste. Eu não tinha adormecido ainda.
– Não tinhas adormecido! Às quatro horas!
Estiveste doente, Jenny?
– Não, mas…
Carlos olhou para a irmã com uns modos que procurou tornar severos.
– Querem ver que foi por minha causa?… Então que te tenho dito, Jenny? Fico de mal contigo se tornares a ter essas canseiras por mim, a ponto de…
– Não, não foi por canseira, é que…
– É que tu és uma teimosa e o que merecias…
– Não se trata agora disso.