Uma Família Inglesa - Cap. 6: VI - Ao despertar de Carlos Pág. 67 / 432

Diz-me: vens hoje mais cedo?

– Hoje! À terça-feira de Entrudo! Ó Jenny! Deixa ao menos passar o Carnaval, deixa já agora acabar esta maldita época, e depois… depois verás que hei-de ficar muitas noites em casa ao pé de ti e de… Tens-te enfastiado muito aqui só, não tens, pobre pequena?

– Ora, não falo por mim; mas… é que… isso faz-te doente por certo, Charles. Esses jantares tão longos… Essas noites tão mal dormidas…

– A mim?! A mim nada me faz mal, filha; lá por isso…

– E depois… Olha, Charles, há deveras tanto tempo já que te não vemos connosco, à noite… Não é por mim que falo, repito; mas o pai… bem sabes, antigos hábitos… gosta de nos ver reunidos todos… a certas horas. Coitado! Não digo sempre, mas… às vezes, de quando em quando, se te não custasse…

– Pois sim, Jenny, pois sim. Deixa voltar o Verão, que eu prometo… prometo que, muitas vezes até, hei-de fazer o que dizes. Mas as noites de Inverno! As noites de Inverno, não obstante tudo quanto imaginou aquele bom Thompson nas suas Estações, são tão longas para se passarem em casa!

– As de Estio… depois… já sei… hás-de achá-las tão formosas que…

– Não – replicou Carlos, sorrindo; – então depois de eu te prometer havia de… Mas, olha cá, Jenny, tu és muito boa, e já sei que me vais até ralhar por o que eu vou dizer; mas deves concordar em que de facto é pouco agradável, para um rapaz da minha idade pelo menos, a maneira por que o pai costuma passar aqui as suas soirées. Aquele eterno Times, aquele Times sem fim aterra-me, Jenny. A Bíblia é um livro que respeito e admiro, mas tremo um pouco das paráfrases dos nossos reverendos letrados; confesso que tremo. O Tristram Shandy do Sterne já o sei de cor; no Tom Jones do Fielding, quando o não tivesse ainda lido, não haveria





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