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Capítulo 6: VI - Ao despertar de Carlos

Página 67
Diz-me: vens hoje mais cedo?

– Hoje! À terça-feira de Entrudo! Ó Jenny! Deixa ao menos passar o Carnaval, deixa já agora acabar esta maldita época, e depois… depois verás que hei-de ficar muitas noites em casa ao pé de ti e de… Tens-te enfastiado muito aqui só, não tens, pobre pequena?

– Ora, não falo por mim; mas… é que… isso faz-te doente por certo, Charles. Esses jantares tão longos… Essas noites tão mal dormidas…

– A mim?! A mim nada me faz mal, filha; lá por isso…

– E depois… Olha, Charles, há deveras tanto tempo já que te não vemos connosco, à noite… Não é por mim que falo, repito; mas o pai… bem sabes, antigos hábitos… gosta de nos ver reunidos todos… a certas horas. Coitado! Não digo sempre, mas… às vezes, de quando em quando, se te não custasse…

– Pois sim, Jenny, pois sim. Deixa voltar o Verão, que eu prometo… prometo que, muitas vezes até, hei-de fazer o que dizes. Mas as noites de Inverno! As noites de Inverno, não obstante tudo quanto imaginou aquele bom Thompson nas suas Estações, são tão longas para se passarem em casa!

– As de Estio… depois… já sei… hás-de achá-las tão formosas que…

– Não – replicou Carlos, sorrindo; – então depois de eu te prometer havia de… Mas, olha cá, Jenny, tu és muito boa, e já sei que me vais até ralhar por o que eu vou dizer; mas deves concordar em que de facto é pouco agradável, para um rapaz da minha idade pelo menos, a maneira por que o pai costuma passar aqui as suas soirées. Aquele eterno Times, aquele Times sem fim aterra-me, Jenny. A Bíblia é um livro que respeito e admiro, mas tremo um pouco das paráfrases dos nossos reverendos letrados; confesso que tremo. O Tristram Shandy do Sterne já o sei de cor; no Tom Jones do Fielding, quando o não tivesse ainda lido, não haveria

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pág. 67 (Capítulo 6)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432