este favor por sua irmã, por Jenny»; sim, por ti, foi por ti que ela me pediu e fê-lo ajuntando as mãos com tal candura, que eu… Precisas de perguntar-me se condescendi desta vez?
Jenny estendeu a mão ao irmão.
– Obrigada. Afinal o bem triunfa sempre no teu coração. Estava certa disso.
Carlos baixou a cabeça, como mortificado com estes louvores da irmã. Dir-se-ia que aquelas palavras lhe estavam a fazer sentir remorsos, longe de o desvanecerem.
Depois de uma hesitação de momentos, terminou por dizer, com evidente enleio:
– Olha, Jenny… eu por fim de contas não sou homem para aceitar louvores que não mereço… repugna-me esta hipocrisia; custa-me deveras, mas… sou forçado a dizer-te que… que não sou digno desses aplausos.
– Porquê?
– Porque… alguma coisa se passou… eu não disse tudo ainda e… É verdade que… condescendi… sim… mas não tão desinteressadamente como… sim… porque exigi… usurpei… à maneira de compensação…
– O quê?
– Um beijo, ao qual a pobre rapariga não retirou a tempo a face e que a lançou numa espécie de desespero, fingido talvez, decerto… mas bem fingido.
Jenny reproduziu um gesto de desgosto.
– Mas não me condenes, Jenny – apressou-se Carlos a acrescentar – porque afinal eu nem lhe vi o rosto, e estou provavelmente condenado a nunca descobrir quem ela seja.
Além disso cumpri religiosamente o prometido, renunciando a acompanhá-la, o que me custou deveras; ainda hoje me preocupa o olhar, a voz daquela rapariga e quase lamento… Vamos, não continues a olhar-me desse modo. Pois recusas perdoar-me, quando eu…
– A falar verdade, mereces bem pouco que te perdoem. Mas, como cedeste em meu nome, quase me tiraste o direito de ser severa. O final… o final… na verdade…
– E vês o meu endurecimento na culpa? Foi isso de toda a aventura o que me deixou mais agradável memória de si…
– Então! – disse Jenny, batendo-lhe com o livro na mão.