Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor

Página 8
no meio dos ventos encontrados dos humanos caprichos; o chapéu, cujo molde clássico dá a um grupo de ingleses um aspecto que é só deles; o chapéu, expressão simbólica da índole industrial e fabril da famosa ilha, pois desperta lembranças das chaminés que ouriçam o panorama das suas mais manufactureiras cidades.

Respirando, havia mais de vinte anos, a atmosfera perfumada do nosso clima meridional, e bebendo, em todo este tempo, da própria fonte o predilecto das mesas britânicas, o genuíno Port wine – esse néctar, cujo aroma, ainda mais que os da nossa atmosfera, é grato às pituitárias inglesas, Mr. Richard Whitestone não conseguira, ou melhor, estas influências, com todos os outros feiticeiros atractivos da nossa terra, ainda não haviam conseguido de Mr. Richard Whitestone dois importantes resultados: – a adopção dos hábitos de vida peninsular, contra os quais antes reagia sempre com a inteira inflexibilidade de suas fibras britânicas, e o respeito à gramática portuguesa, que, em todas as quatro partes, maltratava com uma irreverência, com um desplante de bradar aos céus e de desafiar os rigores da férula mais indulgente.

Não desmentia Mr. Richard a asserção do autor das Lendas e Narrativas, quando afirma que sempre que um inglês, em casos desesperados, recorre a algum idioma estranho, nunca o faz, sem o torcer, estafar, e mutilar com toda a barbaridade de um verdadeiro Kimhri.

De facto, as cinzas de Lobato e de Madureira deviam agitar-se na sepultura sempre que Mr. Whitestone falava, porque as regras mais triviais de regência e de concordância eram por ele atropeladas com uma frieza de ânimo, com uma fleuma, com uma impassibilidade, somente comparáveis às de um membro do Jockey-Club, ao passar com um cavalo por cima do corpo de algum transeunte inofensivo ou competidor derrubado na arena.

<< Página Anterior

pág. 8 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 8

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432