Uma Família Inglesa - Cap. 8: VIII - Na praça Pág. 84 / 432

Há ainda outra classe, também inquieta, apressada, incansável, porém, muito longe das disposições para a reverência desta última em que falámos. Há nas suas cortesias rasgadas alguma coisa de artificial, que não ilude ninguém, e às vezes a menos cerimoniática familiaridade substitui até essas aparências de respeito. São espantosos de tenacidade a perseguirem em certos casos o comerciante, que em vão tenta fugir-lhes; passam-lhe da esquerda para a direita, da direita para a esquerda; atravessam-se-lhe no caminho; entram com ele nos portais, sobem com ele as escadas, invadem-lhe o ádito dos escritórios, transpõem a barreira dos mostradores, encostam-se sem cerimónia às escrivaninhas, batem-lhe amigavelmente nos ombros, colocam-lhe diante dos olhos garrafas, vidros, maços de fazenda, tabelas de preços, amostras de todos os géneros comerciáveis, de que andam constantemente munidos, e a custo se resolvem a soltar das mãos a vítima que chegaram a atacar. – São estes os corretores e agentes de casas estrangeiras.

A classe dos primeiros-guarda-livros é a porção aristocrática desta bureaucracia ou escritoriocracia comercial. Mostra-se principalmente à janela dos primeiros andares, onde vem, de vez em quando, descansar das fadigas de uma escrituração. De ordinário, conservam a pena entre os dedos, como para significar que é momentânea a pausa – o que nem sempre sucede. Mais necessários, e por isso mais apreciados e atendidos, gozam já de certas franquias e privilégios entre os da sua classe. É-lhes concedido falarem da janela para a rua com algum colega ou amigo que passa; a alguns até se permitem fumar na varanda um charuto, e ausentarem-se algum tempo do escritório sem prévia requisição; na rua, saúdam mais desassombrados os patrões e são menos distraidamente correspondidos por estes.





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