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Capítulo 8: VIII - Na praça

Página 86
abandonava-os, e ia abraçar alguns rapazes, tão laboriosos como ele, que falavam dos bailes da véspera ou abriam a boca de enfadados; dali dirigia-se a cumprimentar um inglês esgalgado, que passava sobre uma horsa, mais esgalgada ainda, e examinava com os olhos de conhecedor as qualidades físicas do quadrúpede e os expedientes da arte do cavaleiro; tolhia a passagem ao despachante que atravessava a correr a Praça e, apesar de tantas pressas, conseguia fazê-lo parar a escutá-lo; chamava pelo nome o galego da esquina, para que lhe viesse sacudir a lama das botas e, durante esta operação, divertia-se a bater-lhe com o chicote na copa do chapéu. Às vezes ouvia com aparente atenção um homem, que lhe vinha falar de certo negócio pendente do escritório Whitestone, mas, se a exposição se demorava, o seu interlocutor, quando menos o esperasse, achava-se só, porque Carlos fora, sem cerimónia, conversar com o guarda-livros, seu amigo, que avistara na janela de um primeiro andar. Tão depressa entrava em um diálogo com o mendigo que lhe pedia esmola, como com qualquer rapariga cujas graças o atraíssem.

Neste género de ocupações se demorou Carlos Whitestone na Praça aquele dia, procurando ser visto pelo pai – único fim que tinha na ideia.

Mr. Richard estava porém na Assembleia Inglesa ou Feitoria, da qual era assíduo frequentador.

Um dos muitos grupos, de que Carlos Whitestone se aproximou, compunha-se das mais graduadas individualidades da Praça.

Carlos passou o braço por cima do ombro de um barão, enfiou o outro no de um capitalista brasileiro, e cumprimentou familiarmente um velho inglês, que estava na companhia também.

– O que não há em toda a Europa é uma Bolsa assim como a do Porto – dizia um comerciante bem-intencionado, em que se encarnara a balda, muito portuguesa, de pendurar no pináculo da perfeição alguma coisa boa que temos ainda por cá.

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pág. 86 (Capítulo 8)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 86

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432