O inglês estremeceu de pasmo.
– What!! – A exclamação saiu-lhe violenta na violência da explosão. – Na Europa! Que diz, senhor? Vossemecê já viajou?
– Nada, não, senhor; ainda não saí do Porto; mas dizem entendedores…
– Ora então… então… A Bolsa de Londres… o Royal Exchange… não vamos mais longe… o Royal Exchange, o moderno; porque o primeiro Royal Exchange foi do tempo da rainha Elisabeth, construído por um arquitecto chamado Gresham, em 1500 e tantos; ardeu em 1667. Dois anos depois levantou-se o segundo; este foi construído por Jerman; ainda me lembra bem dele; ardeu em 1838. Estava eu em Londres. Em 1842 lançou-se a primeira pedra de novo, que foi segundo o plano de Tite, e dentro em três anos estava completo.
– E esse quando ardeu? – perguntou Carlos.
O inglês sorriu, sem responder à pergunta, e preparava-se para entrar em circunstanciada descrição da planta baixa e alta do edifício.
Carlos interrompeu-o outra vez:
– O que estou vendo, Mr. Lyons, é que há em Londres uma terrível disposição para arderem as bolsas.
O barão e o brasileiro acharam extraordinária graça ao dito de Carlos e, batendo-lhe no ombro e chamando-lhe «manganão, patusco, cabeça-de-vento» e outras injúrias assim amáveis, não quiseram mais saber do que lhes dizia o inglês, o qual se viu constrangido a engolir o resto da notícia histórica e arquitectónica.
– Mas, senhores! – dizia em outro grupo, para o qual Carlos se dirigiu, o meticuloso possuidor de umas cinco acções de certa companhia, a um dos directores da mesma. – Eu não vejo as coisas bem figuradas. Para que hei-de estar a dizer o contrário? Negócios com o governo nunca me agradaram. O governo! Quem é o governo? O governo afinal não é pessoa que se penhore; por isso voto que…
– Mas repare – dizia o director com exemplar paciência – repare que as garantias oferecidas são das mais seguras; o governo compromete-se…
– E adeus, minhas encomendas! – tornou o outro.