Uma Família Inglesa - Cap. 8: VIII - Na praça Pág. 91 / 432

Anastácio Rebelo.

– Ora V. S.a – prosseguiu este – há-de estar certo de que há dois meses… um meu correspondente de Braga me pediu… Eu não sei se o pai de V. S.a lhe disse… Talvez não dissesse…

– Talvez não – disse Carlos, sem o atender…

– Pois o negócio é simples: este meu correspondente… que é também meu compadre… isto é, eu é que sou padrinho do filho dele, uma criança de treze anos, que esteve há meses em minha casa, a banhos na Foz, por causa de uns humores frios que…

Carlos assobiava já.

– Mas agora que este meu compadre… Olhe; aqui está a carta que ele me escreveu – prosseguiu o homem, procurando-a no casaco – eu julgo que a trago comigo… Por ela fará ideia…

E principiou a tirar papéis sobre papéis, cartas, escritos, ordens, letras, contas, recibos… dizendo, ao passo que examinava cada qual por sua vez:

– Não… isto é outra coisa… é a ordem para me pagarem uns cinquenta e tantos mil réis… E já não vem sem tempo… Mas onde diabo pus eu a carta?… Não é isto… Isto é o escrito de arrendamento da minha casa do Forno Velho… Isto é… Que S. Pedro é isto?… Ah! a carta do Maranhão… isto… isto é uma encomenda que me fazem de Bragança… V. S.a não me sabe dizer onde se vende… a estampa da Guerra da Crimeia?

– Eu não, senhor – disse Carlos, dando dois passos para o escritório.

– Encomendaram-ma e eu… – continuava o homem, seguindo-o. – Ah! achei; cá está a carta! – exclamou, segurando Carlos pela manga do casaco. – Ora quer ler?

– Eu não, senhor – respondeu este, tentando evadir-se.

– «Prezado amigo e compadre» – principiou o homem a ler. – «Recebi a sua de treze e agradeço-lhe as recomendações que me manda. A comadre… – é a mulher dele – recomenda-se à Sr.a D. Maria do Carmo – é a minha mulher… – e o Juca… – é o tal meu afilhado… – manda muitos beijos ao padrinho…»

– Que é o senhor – disse Carlos, já impaciente com a maçada.





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