Uma Família Inglesa - Cap. 9: IX - No escritório Pág. 97 / 432

Ai, que impertinente que estás!… Adiante! adiante! adiante! … Espera, espera… Lá te esqueceu um D!… E agora?… Agora vê se te mexes entre essas duas letras… Assim… Ah!… não toques nos SS… assim… Bem… Continua, mas com tento… Então! Não querem ver que paras outra vez? Ora isto é de mais!… Deixa estar que… Oh!

Era um borrão que lhe caía no meio da página e lhe inutilizava a correspondência quase no seu termo.

«Trai la rai, la rai, larai lai

Trai, larai, larai, larão, lão

Trai larai, lai, larai, larai lai,

Trai lari, lari, lari, larão lão

Trai lari, lari, larão lão.»

Isto era a trautear o hino da Carta, coisa que ele fazia sempre nestas ocasiões críticas. E sem mais alguma observação, pôs a folha suja de lado, preparou outra e encetou nova correspondência, não sem primeiro substituir a pena, dizendo ao deixá-la:

– Descansa. Hoje não estás nos teus dias.

Vem cá tu – dizia para outra. – Vê lá como te portas!

E, olhando fixo para ela:

– Hum! Não tens lá muito boa cara! não… Ora vamos a ver… Vá, despacha-te que tenho mais que fazer!… Abre os bicos… abre… Assim… bem! Sim, senhora!… Bravo!… Ninguém havia de dizer que tu… Cáspite!…

E com estas palavras de animação ia aplaudindo o bom serviço da pena e quase lhe parecia vê-la trabalhar com mais ardor, assim estimulada.

Foi neste momento que um valente encontrão abriu a porta do escritório, e o terra-nova, precedendo Carlos Whitestone, invadiu o até ali silencioso e tranquilo recinto, principiando logo por entornar a infusa com água, colocada a um dos cantos da sala.

Manuel Quintino, que estremecera com a súbita aparição do quadrúpede, ao ver o estrago que a sua impetuosidade produzira, pôs-se a olhar silencioso para ele e em seguida para a porta, como se contasse com mais alguma invasão, não menos revolucionária do que esta.





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