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Capítulo 9: IX - No escritório

Página 98

Efectivamente, Carlos não se fez esperar.

– Good morning, Mr. Manuel Quintino! – bradou Carlos do limiar, fazendo para o guarda-livros uma reverência muito rasgada.

– Good morning, Mr. Charles – respondeu Manuel Quintino, encolhendo os ombros e dando às feições um ar de paciente resignação, uma espécie de bondoso mau humor.

Cumpre advertir aqui que Manuel Quintino falava o inglês, graças à sua longa convivência com os Her Majesty’s subjects residentes na nossa cidade; mas o inglês de Manuel Quintino era, até certo ponto, como o português do patrão. Causava especial sensação ouvi-lo pronunciar todas as palavras inglesas num tom, inflexão e maneiras do cunho mais genuinamente português. Podia dizer-se que Manuel Quintino falava português em inglês.

– Ditosos olhos que o vêem! – disse ele a Carlos; e depois para o rapaz do escritório: – Olha aquela água que se entornou… – e para Carlos outra vez, com gesto velhaco: – Então esteve doente?

– Eu? Tenho gozado a mais florescente saúde do mundo – respondeu Carlos.

– Como não tem aparecido! – Anda, avia-te, rapaz!

– Tenho-lhe talvez feito aqui muita falta?

– Hum! – resmungou Manuel Quintino.

Os caixeiros, que com a entrada de Carlos haviam escondido, um o romance, outro o modelo epistolar, sorriram, entreolhando-se.

– E você como tem passado por aqui sem mim, minha flor? – perguntou Carlos, mexendo-lhe nos papéis. – Cada vez mais bonito, cada vez mais contente.

– Adeus, adeus. Não bula aí, homem! Que é o que quer? que é o que quer?

– Lumes. Não há lumes nesta casa? Que diabo!…

– Eu logo vi. Não pensa senão em fumar. Espere lá, espere lá. Não me desarranje isso. Eu dou-lhe lumes, eu dou. Ora aí tem. E deixe-me.

Carlos acendeu um charuto e ofereceu outro a cada um dos caixeiros, que os afagaram com olhares ávidos, mas sem se atreverem a aceitá-los.

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pág. 98 (Capítulo 9)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 98

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432