Uma Família Inglesa - Cap. 9: IX - No escritório Pág. 98 / 432

Efectivamente, Carlos não se fez esperar.

– Good morning, Mr. Manuel Quintino! – bradou Carlos do limiar, fazendo para o guarda-livros uma reverência muito rasgada.

– Good morning, Mr. Charles – respondeu Manuel Quintino, encolhendo os ombros e dando às feições um ar de paciente resignação, uma espécie de bondoso mau humor.

Cumpre advertir aqui que Manuel Quintino falava o inglês, graças à sua longa convivência com os Her Majesty’s subjects residentes na nossa cidade; mas o inglês de Manuel Quintino era, até certo ponto, como o português do patrão. Causava especial sensação ouvi-lo pronunciar todas as palavras inglesas num tom, inflexão e maneiras do cunho mais genuinamente português. Podia dizer-se que Manuel Quintino falava português em inglês.

– Ditosos olhos que o vêem! – disse ele a Carlos; e depois para o rapaz do escritório: – Olha aquela água que se entornou… – e para Carlos outra vez, com gesto velhaco: – Então esteve doente?

– Eu? Tenho gozado a mais florescente saúde do mundo – respondeu Carlos.

– Como não tem aparecido! – Anda, avia-te, rapaz!

– Tenho-lhe talvez feito aqui muita falta?

– Hum! – resmungou Manuel Quintino.

Os caixeiros, que com a entrada de Carlos haviam escondido, um o romance, outro o modelo epistolar, sorriram, entreolhando-se.

– E você como tem passado por aqui sem mim, minha flor? – perguntou Carlos, mexendo-lhe nos papéis. – Cada vez mais bonito, cada vez mais contente.

– Adeus, adeus. Não bula aí, homem! Que é o que quer? que é o que quer?

– Lumes. Não há lumes nesta casa? Que diabo!…

– Eu logo vi. Não pensa senão em fumar. Espere lá, espere lá. Não me desarranje isso. Eu dou-lhe lumes, eu dou. Ora aí tem. E deixe-me.

Carlos acendeu um charuto e ofereceu outro a cada um dos caixeiros, que os afagaram com olhares ávidos, mas sem se atreverem a aceitá-los.





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