A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 147 / 508

Havia-se sentido ferido no ponto mais melindroso da sua dignidade.

- Está bom, menino, - replicou ele amargamente - não diga mais, para se não envergonhar depois. Eu calo-me; e desculpe-me, se falei. Estou costumado a ver pobres e ricos virem a minha casa pedir-me o favor de os atender. Ainda assim, aí vai mais um conselho, apesar de mos não pedir. Seja atencioso com a velhice, que não é baixeza nenhuma. Mas que é isto? - exclamou, mudando de tom e olhando para um redemoinho de folhas secas, que o vento trouxera até perto dele. - As folhas vêm deste lado! Então virou o vento? É verdade. Ah! sim?... Percebo.

E, depois de olhar para o ar, continuou:

- Mudanças tão repentinas!... Hum!... Já me não agrada aquele azul e aquelas nuvens.

E levantou-se.

- Dou-lhes meia hora, e verão tudo isto coberto, e quem sabe o mais que virá. Aconselho-os a que vão descendo o monte, que não é seguro descê-lo quando as enxurradas engrossam. Eu, por mim, já me não demoro, que não tenho confiança na firmeza das minhas pernas. Oh! noutros tempos!... Enfim, tudo tem de acabar. Adeus! E, sem mais palavras, sobraçou a caixa de lata, em que arquivava as ervas medicinais e outras substâncias, que andava colhendo, e partiu, depois de dizer adeus a Augusto, a Madalena e a Cristina.

Logo que o ervanário desapareceu, Henrique soltou uma risada, em que parecia haver o que quer que era de forçado.

- É realmente curiosa esta antigualha - disse ele, que interiormente sentia já remorsos pela maneira por que tratara o velho.

- Ai, primo Henrique; que ainda está muito pouco preparado para viver na aldeia! - disse a Morgadinha. - Tem uns melindres e uma maneira de ver as coisas! Tudo lhe parecem faltas de atenções, propósitos de ofender! Depois há um sarcasmo cruel nas suas palavras, a que os espíritos não estão aqui habituados e de que se sentem por isso feridos.





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